Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA P ARAENSE DE LETRAS Cassilda foi heróica, pois, teve a preciência do porvir, não querendo ver mais o amado, por quem daria a vida. Rhossard rolou então, numa existência, onde as agruras, os espinhos, os pedregulhos que na queda lhe torturavam a alma, eram consequências da paixão terrível, cujo objeto fugira para sempre, deixando-lhe o inferno no coração. Essa é a verdade dos fatos, me assegurou Frederico. - Há assim uma completa absolvição para a mulher que se julgava cruel e sem piedade, retorquí eu. O meu amigo não respondeu logo. O seu . pensamento parece que rebuscava passagens remotas do passado. - É assim mesmo, caro amigo. - Você vê Belém atual, me disse êle. É linda, porque o Senador Lemos muito fêz por ela. Mas antes, no tempo do Rhossard, parece que era melhor. Atualmente se quer dar um passeio de bonde e não se póde, pela insuficiência de veículos. As nossas ruas não são asfaltadas, e por isso, os veículos não deslisam, mas pulam por cima das pedras do calçamehto, inco– modando os passageiros. Os bondinhos puxados a burros . .. Eram primitivos, mas muito mais agradáveis. Não havia auto· móvel, cinema, rádio ou avião. Mas o bem estar era mais pal– pável. Como disse : havia os bondes de tração animal, abundan– tes; havia os teatros de revistas, que eram ótimos. Companhias cariocas e p o r t u g u ê s a s visitavam-nos com frequência, enchendo d eentusiasmo as platéias. Havia corridas de bicicle· tas, continuou Frederico, e a pista ficava onde é hoje a Praça da Bandeira. Corredores fampsos se exil5iam, atraindo multi· dão. . . Os bondes eram asseados; os condutores aos domingos trajavam de branco. E o custo das passagens uma ninharia : seis vintens ! Até achei graça. . - Este largo e apontou à Praça fronteira, continuando, - era vazio, só havia um chafariz no centro. . - E a edificação? perguntei. - Isso ,está na mesma; quase nada mudou. Apenas, a arborização era de castanholeiras. Resolvemos tomar um ônibus para baixo. Chegando ao comércio êle foi me dizendo: ali onde está o Relógio, e apontou à Praça Siqueira Campos, havia o edifício da Bolsa, todo de mármore, mas ainda sem teto, pois, ficára por concluir. Na es– quina no lugar da casa "Corcovado" e·ra um prédio acachapado, o "Centro Comercial Paraense" casa de secos e molhados. - 166 -

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