Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS saiu de Belém. E tornou-se um dêsses amantes apaixonados pela cidade que o viu nascer. Tem boa memória e tudo guarda na retentiva. - Li outro dia o teu artigo sôbre o poeta Frederico Rhos– sard, disse êle, - mas preciso acrescentar alguns fatos que ignoras. O poeta era tio de Frederico, e chegaram a morar jun– tos, quando a familia Lemos ocupava o prédio à Praça Justo Chermont, olhando a sacristia da Basílica, onde está hoje o "Ex– ternato Suisso Brasileiro". Mas segundo as informações do meu amigo, e grande vate foi morar depois, à Rua do Riachuelo, quarteirão compreendi– do entre à Travessa 1. 0 de Março, e Rua Padre Prudencio. Eu era todo ouvidos. E, instintivamente, nos dirigimos para um bar que estava já aberto àquela hora, localizado na esquina do Largo, com a Rua dos Tamoios. Não s~i se devido ao local, a manhã estava deslumbrado– ra. Pássaros turturinavam no cimo das árvores, e pedestres ra– ros desciam ou subiam a formosa avenida. Havia chovido à noite, e Frederico que é um admirador da natureza, não se pôde conter que não dissesse : "Mas está uma manhã deliciosa!" ... Concordei plenamente. ônibus passavam no seu carac– teristico ruído; os de descida, cheios, e de subida vazios. t - Mas, vamos ao caso, meu caro. Agora já não te dei- xo. Com que, então, dizes que Rhossard se mudou para a Rua do Riachuelo ? - É exato. E bem defronte da sua residência morava o Coronel Aureliano Eirado. Tinha uma filha graciosíssima a jo– vem Cassilda, verdadeira "virtuose" do teclado. Os grandes mestres da música clássica lhe eram familia– res; e, então, ficava afoga~a no ambiente de glória, quando to– cava certos trechos de Grieg, como última Primavera ou Me– lodias Norueguêsas. Rhossard, co~o p~eta que era_, enlevava-se com aquelas melodias que lhe. 1~m d1tetamente a _alma. E dispôs-se com afinco a estudar v10lmo, o 9-ue consegum. dentro de algum tem– po. E depois, quando medianamente se 1a aperfeiçoando, acom– panhava, da casa fronteira, as sonatas que lhe entravam de rol– dão pela janela. fsse incidente fêz se estabelecer entre ambos certas re– lações, em que a arte era o tema principal. Mas Cassilda era dotada de tal graciosidade e simpatia e Rhossard, um guapo varão, com a mente iluminada pelos l~m- - 164 -
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