Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Caixas de cerveja eram consumidas diàriamente. Era um ponto de concentração bem localizado. Adiante, no Café Central, se reunia a nata dos bilharistas, exímios, que eram to– dos os homens de boa sociedade, e o jogo do bilhar estava na moda. E seguindo avante, a Rua da Trindade continha em si os "dancings", as casas de jogo, os "cabarets", as pensões de "demi-mondaines", os restaurantes boêmios e as casas coletivas de meretrizes de todo o genero, sendo que a Travessa 1.º de Março é que aguentava êsse contrapeso, constituindo-se o ver– dadeiro "bas-fond" de Belém. Pelo Carnaval era a Rua da Trindade, onde passava o "Corso", depois dava êle uma ligeira volta pelo Largo da Pólvo– ra; o qual começava a nascer, com grande atração: Não estives– se ali o Teatro da Paz, de construção recente, de grandes pro– porções, e impecáveis linhas arquitetônicas! ... Rhossard era um funcionário de prestigio no jornal onde trabalhava, a "Província do Pará", sita à Travessa Campos Sa– les, ou do Passinho, Antonio Lemos o estimava. É que êle ama– va com um amor desmedido, que só acontece com os amores não correspondidos. Ou fosse devido à sua qualidade de boêmio, de vida flu– tuante e insegura, ou fosse que o objeto de sua paixão já amasse outro, o que se dava, é que Rhossard vivia assediado por in– vencível afeto amoroso que lhe amargurava cruelmente a vida. A pessoa a quem êle rendia a sua admiração segundo se boatejava, era a senhorita Cassilda Eirado, filha do coronel Au– reliano Eirado, e que mais tarde foi a esposa do Governador Enéas Martins, e que por êsse tempo havia fundado a "Folha do Norte". Frederico Rhossard, desiludido, sem deixar de dedicar ao objeto de seu amor os mais sentidos versos, um dia deman– dou viagem rumo do sul, onde, chegado ao Rio de Janeiro, foi nomeado Guarda Mór da Alfandega do Pará. Voltou à sua cidade natal, recomeçando a sua vida de esturdias, parecendo que a sua grande quimera era a chama abra– sadora, que dava vida à sua inspiração artística. Rhossard é considerado o maior poeta da Amazônia em to– das as épocas. A elegância e originalidade do seu estro, grande cultura literária, e a chamá divina do seu amor faziam-no deixar à distância, os demais bardos seus contemporâneos. O seu soneto GUASCA é de forma encantadora, como se vê, e de uma delicadeza superior: - 160
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