Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Jernômico, subiam a rua, guizalhando, com os ·burros batendo fortemente com as ferraduras no calçamento, enchendo por mo– mentos, a pracinha de · ruídos. Além, no começo da rua da Trindade, e fazendo frente para a Santo Antonio, ostentava-se num prédio de três pavimentos, que fôra reconstruído depois de um incêndio, - a "Casa Carvalhaes', estabelecimento modelar de vinhos finos, conservas e guloseimas. A "Sucursal do Adol– fo" , do saudoso Adolfo Melibeu de Lima, que teve um irmão bis– po, - entestava com o grande empório de secos e molhados. E a seu lado, também na esquina, lá estava a antiga "Casa Mar– ques', que supria de gêneros alimenticios grande número de fa– mílias abastadas. Subia-se pela Rua da Trindade, onde o co– mércio era forte, em lojas de armarinhos, e chegava-sé à "Ave– nida da Liberdade", grande Loja de modas e confecções. Do– brando a esquina para a Rua 28 de Setembro, encontrava-se logo o "Reforro Club", quartel general de muitos boêmios intelec– tuais, como LeopoJdo Souza, João de Deus do Rego, Natividade Lima, Acrisio Mota, Jacques Rq_la, Antonio Maques de Carva– lho, Alfredo Pinto, João Marques de Carvalho, Olàvo Costa, Pau– lo Maranhão, -Alcides Bahia, Alexandre Hagg, Artunio Vieira, Frederico Rhossard, e outros muitos. Voltava-se para a Rua da Trindade, e, antes de chegar a igreja, deparava-se com um velho pardieiro, que servia de "re– pública" a vários empregados da imprensa, como Eustaquio de Azevedo, P. Maranhão, Ildefonso Tavares e tantos outros que fa– lham nas minhas informações. Era o "Pombal". A capital paràense nesses idos era cidade abastada. A produção da borracha enchia o seu comércio de "divisas", co– mo se diz atualmente. Uma Libra esterlina valia 12 mil réis. Um Dolar, 3 mil réis. O Gram-Pará era a terra do "El Dorado", para a qual convergiam aventureiros, homens de negócios, cortezãs belíssi– mas, com mira no ouro negro. Tôdas as manufaturas vinham do estrangeiro, e eram bem confeccionadas, como calçados, sabonetes, perfumes, teci– dos, camisas portuguesas e austríacas, até livros. Cavalos de preço, elevado como conta Paulo Maranhão. eram montados por magnatas do "turf", acompanhados por mundanas ostentosas, e circulavam pelo Largo da Pólvora e Es– trada de Nazaré. Havia teatrinhos, ou buates, como chamam hoje, no "Chat Noir" e no "Moulin Rouge", nos quais, lindas mulheres estran- - 158 -

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