Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA p ARAENSE DE LETRAS disse que era tal o exagêro de Setúbal pela impetuosidade na frase, que num só capítulo original do "Sonho das Esmeraldas" contára cêrca de mil pontos de exclamação! Advertido do ex– cesso, .Setúbal prometeu reparar o abuso. Levou dias a tra– balhar os originais. Finalmente entregou-os de volta ao edi– tor. Ainda havia 700 pontos de exclamação e êle se mostra– va penalizado de haver eli.Íninado tantos .. : Sílvio, se inspirou no modêlo, não lhe copiou a feição ni– tidamente pessoal. ·Escreveu mesmo sem muitos pontos de ex– clamação a sua história romanceada da viagem de Pedro Tei– xeira, Amazonas acima, até parar diante do Adelantado, já nas fraldas dos Andes. Um quarto de século dormiu o livro nas gavetas de Sílvio Meira. Lia-se-lhe, na última página, uma observação que bem reflete a i quietude e até o pessimismo da juventude de nosso tempo. "Literatura no Brasil - escreveu êle - é para quem tem padrinho. E nêsse campo permaneço pagão". Pois muito bem. Já eleito para êste sodalício, esteve Sílvio na Guanabara. Uma editora carioca interessou-se ime– diatamente pelos originais, planejando publicá-los numa série de livros de aventuras para adolescentes, sob roteiro criter:io- - sarnente estabelecido. Só lhe estava faltando, exatamente, al– go sôbre a Amazônia. Dentro em breve "A Conquista do Rio Amazonas" estará nas estantes da nossa juventude atual, em ca– pítulos sem dúvida épicos, mas agradáveis de ler. O POLlTICO Era inelutável que SfLVIO MEIRA, bacharel laureado inteligência poderosa e juventude atuante fôsse atraído para ~ política. Essa é uma atividade de que se vêem marcas profun– das ainda que StLVIO MEffiA já quarentão, lançando uma can– didatura quase simbólica a Deputado Federal, numa época em que já não se seleciona pelo mérito e pelo caráter, mas pela capacidade de engodar o povo e de melhor servir-se das cau– sas que pagam dividendos eleitorais elevados. Muito jovem, Sílvio integrou a bancada governista, na Assembléia Legislativa do Pará. Nada do que êle fazia, acei– tava receber como favor ou como decorrência, que seria com– preensível, de ser filho de Augusto Meira e irmão de Otávio. Gosta de provar o seu próprio valor. Não nasceu para ser fun– ção de função, mas para variável livre. E assim é que aos 25 anos preside a Comissão que elaborou o projeto de Constituição do Estado do Pará, ainda hoje vigente. Aos 27, tanto era O seu talento, que passava hierarquicamente à frente de velhos depu- - 14 -
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