Revista da Academia Paraense de Letras 1964
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETHAS cronista brilhante, dominando, com segurança, perfeição e bele– za êsse difícil gênero. Um humorista, como salientou certa v;z Jurandir Bezerra, de profunda sensibilidade lírica, exterio– rizada a cada passo em seus versos. Jornalista profissional, fêz parte da Associação dos Novos, cooperou com Bruno de Me– nezes na "Belém Nova", organizou tertúlias artísticas excelen– tes no Clube do Remo quando se pensava mais na arte do que no futebol, ou melhor, quando o futebol era futebol e não pro– fissão, e . onde estivesse um movimento em favor das letras e das artes lá estava êle, com a sua bondade imensa, o seu talento criador, que se mais não produziu foi por causa do tempo - tempo, inimigo constante, perene, silencioso, dos homens de es– pírito, os quais, para subsistir e manter família, enveredam por outras profissões, sacrificando, muitas vezes, a verdadeira vo– cação. SE MUDAR, MUDA O HOMEM Aliás, antes de Jurandir Bezerra, o romancista conterrâ– neo Abguar Bastos, (ao fazer a apresentação de "Panela de Bar– ro" (Edição Conquista, 1947) escreveu: "Entre 1920 e 1930 éramos 15 rapazes unidos no bom combate à tirania acadêmica, aos falsos preconceítos de classe. Investíamos, sem cerimônia, contra os ídolos literários do tempo e, em seguida, nossa luta estava transformada não só numa batalha pela democratização da arte, por uma arte livre e simples, como pela democratiza– ção política, por uma liberdade mais real e mais digna. "Cada qual seguia seu pensador. Eram os poetas, críti– cos, cronistas, oradores. Era a geração de após guerra que– rendo um mundo nôvo, diferente, sem explorações econômicas nem escravizações sentimentais". "Mas o que destacava êsse grupo - acentua Abguar Bas– tos - era a sua união, a sua incansável fraternidade, o seu amor recíproco. E foi essa união que fêz a sua fôrça e pôde, mais t~rde, mandar elementos ativos para o campo da luta so– cial". "Jaques era o famoso cronista oral. Vinha para contar o que ia acontecendo por fora. Mas escolhia o lado pitoresco das coisas, o lado bom e humano, a frase alegre e rústica, toda enfeitada de humor e simplicidade". "Nunca foi satírico, nunca usou a sua arma para jogar ninguém no ridículo. Repugnava-lhe isto, porque toda a sua indole era forrada de bondade. -150-
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