Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Osvaldo Orico, o poeta de "Dansa dos Pirilampos", emo– tivo sensibilidade de sonhador, tem no seu livro "A Saudade Bra~ileira'.' uma ciranda de indagações e definições dêsse vo· cábulo prÍvativo da língua portuguesa. ~le ente_nde que "a saudade é a janela onde se debruçam duas melancollas: a quem vem do passado e a que descortina o futuro. · Saudade! Cada letra dessa palavra é uma dor ou uma vela, uma cor, um aro– ma. Corre-lhe nas veias a prece de marujos e a tinta dos pin– tores. Cada letra é.. uma asa em que nos transportamos para onde queremos, viajando sem sair do mesmo lugar, vencendo as distâncias. Saudade ! Jasmim de tôdas !atadas brancas, que demoram junto aos alpendres: lírio· de neves altas, que as– pira a' tocar o céu". Olegário Mariano, o citar é do mestre, o lírico cantor de t!das as cigarras, escreveu: "Saudade. Dor silenciosa. Tra– ma intangível que o destino tece . . . Sombra de dôr dos olhos de quem ama. Voz da garganta de quem não esquece'. Carolina Michaélis, João Ribeiro, outros filólogos, busca– ram em vão a origem da saudade, idiotismo de nosso idioma, sentimento peculiar de nossa gente. Na beleza ar_~ente dos versos de Gilka Machado, lá está ela, a ausência tua é uma presença estranha". E em Da Costa e Silva, o poeta das grandes rebeldias : "Saudade Olhar de minha mãe rezando ... . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . • ..... . Saudade! Asa de dor do pensamento! ... " A saudade, minha dôce amiga, habita todos os corações. Bate à porta dêles, pede um agasalho para o frio de sua inquie– tação. E quando sái é como o viandante que dormiu na esta– lag~m alheia e pela _manhã se retira, refeito do caminho da vés– pera, rumo a outros lugares. . A s~ud~de não tem pátria, não tem lar. É um pouco da alma msati~f~ita qu~ transita pela nossa s~nsibilidade, ferindo– nos e acariciando-nos Ela dói quando se está longe. Que o digam dois corações afastados ... Por isso dizem que o que separa não é ai distância, é a s~udade. Eu, minha querida amiga, sou um homem que tem tido horas cruciantes de nostalgia. Sou um emotivo e a re– cordação de dias que se foram provocam em mim a saudade do passado. ·· Ouça ainda esta quadra popular escrita por um cora· ção enfêrrno de saudade : -140-

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