Revista da Academia Paraense de Letras 1964

NO CAMINHO DAS ESTRELAS GENESINO BRAGA ( Da Academia Amazonense de Letrns ) No ch~o reflexo, sob o cone de luz pênsil do teto, salta das treva_s a s1lhu~ta da ~ailarina. Não é mais que a tênue pluma de Verl!1me,, v~stmdo a, imagem da fragilidade; nem menos que a_ e~oçao plasbca palpavel gerada em seiva de cristal. É o jôgo ntm1co da Forma, a geometria sensorial dos movimentos com que.ª etérea figurinha de Tánagra coregrafa, na pista luzidia, o sentido escultório do equilíbrio. Graça volátil, envolta em fúmeo véu de bisso, virgem e leve como o lírio, a lesta wilis maneia aliferos anseios, doma o espaço e se espirala em airosos voluteios, na argêntea faixa lu– minosa. Baila em oração: a expressão doce, os olhos súplices, nos lábios rictos a flor de um beijo de perdão. Suas mãos têm frêmi– tos de prece: flaflam tremuras de misericórdia, adejam acenos de mea-culpa, grafam sinais de contrição. Os pés deslizam, giram e correm, _:_ flexíveis, alígeros, fluidais, - pátalos destros da cadência, plantas macias em tatos de veludo. Duas serpentes de carne rósea e elástica são seus braços, em harmônicos volteios pelo ar, como raízes de um cáule têso e fléxil buscando os sumos da sobrevivência. De ventre esguio, de busto ereto, de coxas lisas, todo o seu co_rpo, esbelto e lépido, inspira o _id~al da esta– tuária. Dança! e, na dança, ~o som dos rítmos sens1ve1s do ball~t, tem tôda a movimentação da natureza: nada e voa, salta e colem, rebenta e excita; é peixe e pássaro, _gat? e ser~e!lte, _arbusto e mulher. Seus músculos se enrijam a flor da cutls mvea, suas veias refervem e plasma árdeg~ e infre~e da emo~ão. Tôda ela é a voragem da posse exclusiva qa matéria, a alma mfla~ada de êxtases e ardores veementes, em decalque na sua plástica har– moniosa. Súbito a música ·finda a bailarina se imobiliza, a luz se esvai. Da me~sagem de belez~ que ela nos trouxe ficam esvoa- - 107 -

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