Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS filho pintor, com méritos e aptidões deveras apreciáveis. E, nos intervalos das extrações lotéricas, voltava às mesas do "Café Manduca", filando médias, enquanto, tamborilando na boca larga colheritas com açucar refinado, buscava adoçar as palavras amargas da sua virulência sui gerneris. Apesar dêisse aplomb irreverente e mastigador, não tinha inimigos declarados, ao que se notava. Sabia como se haver com a gente que cercava, no rodado das tertúlias e no criticado das ações. Inteligente e lido, rápido e vadio, resguardava– se dos comentários determinativos e das intrometidas per– mc10sas. Exemplar chefe de família, gozava de ótimo con– ceito em tôdas as camadas sociais. E foi este o ROMEU MARIZ que conhecemos e com quem lidamos, sem temores e sem desconfianças, por longos anos a fio, pràdigamente amistosos e fidalgamente c-avalheiros. Devemos à sua hon– rosa estima, que, certamente, como de hábito e costume, não tolerava as nossas falhas humanas, por mais brandas que fossem, algo de bom e de confortador e, também, algu– mas recordações desordenadas, que nos encheram as medi– das, sem entornar vasilhames. E dentre elas, ressalta um pretendido empréstimo de CINCOENTA CONTOS DE RÉIS, "para tapar buraco", abordado que fui em meu Cartório, logo após deixada a Prefeitura de Belém, na Interventoria Mag:alhães Barata. Assustou-me o ataque agressivo, pelo astronômico volume do pedido. Monetàriamente, não tinha com que satisfazê-lo, mesmo com um simples aval. O cré– dito anda rasteiro. Em poucas palavras e com certa indig– nação, repelí o ataque imprevisto e afrontoso. Procedendo de modo contrário, o juizo feito, inclusive por êle mesmo, seria o de não termos andado limpamente no desempenho da função cubiçada, que mal deixáramos, num compreen– sivo gesto de pudor e de vergonha. Aceitando as minhas razões, reduziu para QUINHENTOS MIL RÉIS o pretendido empréstimo, ao que foi plenamente satisfeito ... * * O que acima fica dito, sintéticamente alinhado, sem opróbios e sem maldições, reflete, apenas, aspectos suassó– rios duma vida simples, que nos foi deveras carinhosa e sa– tisfatoriamente condicionada em todo o seu percurso, rela– tivamente curto. Nunca brigamos, ostensivamente desa– busados, em qualquer tempo e ocasião, na "ACADEMIA PA– RAENSE DE LETRAS" ou fóra dela. , Com •absoluta cer- - 105 -

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