Revista da Academia Paraense de Letras 1964

MARIZ ABELARDO CONDURÚ Mal afeitos às calças compridas, não havidas de en– comenda, pois não possuíamos meios e não tínhamos guarda– roupa próprio, entramos em públicas relações sociais, guar– dadas as devidas distâncias. Éramos menino pobre. Ini– ciamos a carreira melancólica pelos idos de 1906, quando as inexperiências se avolumavam a olhos vistos e os tropeços se contavam a dedo, no fatigante subido e no ligeiro des– ~ido das encostas íngremes. Era a vida trabalhosa que se delineava, torturadamente difícil em todos os seus contor– nos e em todos os seus avanços, em relativa sorte e não pou– cos _desenganos. E foi, assim, que nos aproximamos, sem muita intimidade, porém com certa confiança. Contudo, não fomos, in totum, do mesmo tempo e das mesmas brin– cadeiras, que êle já era um tanto maduro, quando nos en– contrávamos, assiduamente, no KIOSQUE da URBANA, sito à 16 de Novembro - Largo de Palácio, por volta do meio– dia, terminada as aulas do "Liceu Paraense", hoje "Colégio Estadual Paes de Carvalho". As conversas, desprovidas de conformismos, não tinham rumo certo, divagadas em seus diálogos longos e no espremido das suas tonalidadse mar– cantes. Palavras vasias, soltas ~o vento marajoára, que soprava molemente, sem ruídos fortes e sem abafos escal– dantes. Meia dúzia de convivas, rapazes novos e palrado– res, alegres em seus devaneios primários . e que enchiam o ambiente acanhado, em o qual, despretens10samente, se alar– deavam amores passageiros e a política local era discutida · bulhentamente, entre as baforadas nebulosas do lemismo dominador e os precalsos esfuziantes do laurismo entroni– zador. Boatos e mexericos I Muita controvérsia e muita desafinação. . . Tudo isso, porém, fruto da ocasião, em nada modificava a boa camaradagem, que era estreita e se fazia compreensiva, mesmo no alargado das aptidões icono- 101 •-,-

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