Revista da Academia Paraense de Letras 1964

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS termediário e bom entre as duas ideologias totalitárias, já ha– viam deixado sua marca em nossa formação. Não fomos - graças a neus não fomos - mocidade amorfa e apática. Ao contrário, tínhamos fome de saber, o que era perigoso para quem vivia, como nós, sob a ditadura que, logo a seguir, frutificaria no "Estado Nôvo", de feição ti– picamente- fascista. Corremos nossos riscos. Fomos espanca– dos p<lla p )licia do interventor do Pará, porque não calamos a voz dos moços, não silenciamos o nosso repúdio, não negocia– mos o nosso silêncio. Infelizmente, não eram muitos os professôres do Giná– sio que permitiam a franca dialogação com os estudantes. Vá– rios dêles, ainda vivendo a fase final do império do "magister dixit", fechavam-se em torre de marfim, mais distantes dos alunos em suas salas, de que se estivessem êles no polo Norte e nós no polo Sul. Afortunadamente, Avertano figurava entre as exceções, ao lado de Honorato Filgueiras, Sílvio Nascimento, Amaral Brasil, Boaventura da Cunha e uns poucos mais. Dêle nos aproximamos sem receio. Ouvia-nos as quei– xas. Diluía nossas mágoas na sua filosofia pessoal, que se ar– rimava na compreensão e no perdão. Mestre de· Lógica, êle ti– nha uma atitude superior diante da desinteligência humana. Parecia todo tecido de tolerância para as idéias, mesmo as que não se coadunavam com as suas convicções. Jamais se apro– veitou da mocidade, para usá-la como instrumento de suas am- , bições, êle que só as teve puras e elogiàveis. Nunca deixou de colaborar, com o··seu esfôrço, para que não nos tornássemos sectários, para que não mergulhássemos na paixão irracional que gera os fanáticos, para que não traduzíssimos em ódio a aversão pelas idéias de nossos antagonistas. Assim, foi Avertano Rocha, sempre na sua maneira de homem bom que não alteava o tom da voz, elogiando ou cen– surando, o professor de quem nos aproximamos com a tran– quilidade que a confiança nos inspi~av~. Nem sempre, é claro, concordou conosco, mas nunca fugm a sua nobilitante missão de preceptor que abre as av~nid_as de. aproximação aos estu– dantes e lhes fala ora como 1rmao mais velho, ora como pai tendo sêmpre o cuidado de não nos fazer sentir a nossa pró~ pria imaturidade. . Sua vida, ela mesmo, foi uma prova de coerência ad– mirável. O homem que não aceitava a violência, voltou-se contra qualquer forma de despotismo: _Qu~lquer forma, frise– mos, já que há os que defendem a v1olenc1a temporária como imperativa para a construção de um mundo melhor. -96-

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