Revista da Academia Paraense de Letras 1962

Q . REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS "Uns braços" - (Várias histórias} 1!:sse conto prende-se ao sonho de Inácio, jovem adolescente de quinze anos (15), que se apaixona pelos "belos e cheios" braços de D. Severina, senhora de vinte e sete anos (27) que vivia mari– talmente com o solicitador Borges. Inácio "depois de haver andado muito na véspera, estirou– se na rêde, pegou um dos folhêtos a "Princeza Magalona", e co– meçou a l'er. . . "Ao cabo de meia hora, deixou cair o folhêto e pôs os olhos na parede, donde cinco minutos depois, viu sair a . dama dos seus cuidados. . . "Era ela mesma; eram os seus mes 7 mos braços". O sonho de Inácio, é purament_e a realização de um desejo consciente; êle realizou em sonho aquilo que teria vontade de rea~ lizar em sua vida em vigília, acariciar aqueles lindos braço.s, e, beijar a sua dona - É um sonho de desejo sexual, mas apesar de tudo, não há conteúdo latente; o conteúdo é manifesto. O simbo– lismo que se poderia admitir nêsse sonho, é o simbolismo do "Complexo de Édipo". Machado de Assis, simbolizado pelo jo– vem Inacio, e a sua mãe D. Maria Leopoldina, simbolizada pela D. Severina. O indício dêsse "Complexo de Édipo", pode-se ob– servar, no próprio texto, ou melhor conteúdo do conto, por parte. de D . Severina quando pensa: - "Uma criança! disse ela a si mesma, naquela língua sem palavras que todos trazemos conosco. E esta idéia abateu-lhe o alvoroço do sangue e dissipou-lhe em parte a turvação dos sentidos. Po-r parte de Inácio, que ouvia a· recomendação que não apanhasse ar, outra que não bebesse água fria depois do café quente, conselhos, lembranças, cuidados de amiga e mãe, (o grifo é meu) que lhe lançaram na alma ainda maior inquietação e confusão". D. Severina "não acabava de acreditar que fizesse aquilo; parece que embrulhara os seus desejos na idéia de que era uma criança namorada que ali estava sem consciência nem imputaç~o; e meia mãe, meia amiga (o grifo é meu) inclinara-se e beijara-o". E o beijo do sonho de Inácio, coincidiu com o beijo de D. Seve– rina, dado na realidade. Aliás, no livro que pretendo lançar sô– bre: _ "Machado de Assis, à Luz da Psicanálise" defendo a tése, que ainda não foi explorada na vida do autôr de "Yayá Garcia", mesmo nos trabalhos de fundo psicológico e psicanalitico, o seu "Complexo de Édipo", que a meu ver foi a raiz dos seus conflitos e do seu Narcisismo. O sonho do Panaricio Na crônica de 16 de julho de 1. 893, Machado de Assis, lan– ça mão do recurso do sonho em vigília, como se na realidade hou- _ 97 _

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