Revista da Academia Paraense de Letras 1962
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS de polícia. A chinela trazida, pelo homem magro, foi verificada não ser de criança, e sim de môça. A análise mostra como sim– bolismo de ~m exame pericial· de defloramento, não em criança, mas n'uma Jovem de 18 anos. Logo estava justificada a prisão como crime; observada no próprio dizer do policia: - "O senhor é acusado de haver subtraído uma "chinela turca". Outro con– teúdo latente do sonho, é quando João Rufino, o homem magro vai buscar a dona da chinela; e "assomando à porta, levantou o r~ posteiro e deu entrada uma mulher, que caminhou para o centro da sala. Não era mulher, era uma "Silfide", uma visão de poéta, t.ma criatura divina. Era loura, tinha os olhos azuis, como os de Cecília : . . Ela vestia, "um vestido branco, de finíssima cam– braia, envolvia-lhe castamente o corpo". . . É outro simbolismo admiravel que nos mostra Macha~o de Assis, no sonho de Duarte, a castidade ou a virgindade simbolizada, pelo vestido branco de fínissima cambraia. O branco como sabemos é símbolo de pureza e virgindade, rôta pela masturbação e defloramento" . As noivas vestem-se de branco, para realizarem o ato nupcial. As virgens enterram-se de branco e num caixão também branco, para dar uma satisfação à sociedade, que morreram sem haver conhecido o pecado do amôr sexual. O outro conteúdo do sonho, que nos mostra a realização de um desejo consciente; é que o bacharel começa o seu sonho, assim: ::De repente, viu Duarte que o major enrolava outra vez o manus– crito, erguia-se, impertigava-se, cravava nêle uns olhos odientos e máus e saia arrebatadamente do gabinête. Duarte quís chamá– lo, mas o pasmo tolhera-lhe a voz e os movimentos. Quando pou– de dominar-se, ouviu o bater do tacão rijo e colérico do dramatur– go na pedra da calçada. Foi à janela, nada viu nem ouviu; autôr e drâma tinham desaparecido". A análise nos mostra, que o desejo do bacharel Duarte, era que o major se retirasse e não lesse 0 seu drâma; mas não sendo possível isso, êle realizou inconscien– temente, ou seja em sonho, aquilo que gostaria houvesse aconte– cido na realidade. Outra parte importante e muito difícil, na análise dês– se sonho, é a resolução tomada por Duarte, em não querer casar. Pergunto, a mim mesmo, se o sonho é uma realização de desejos, por que se negara o bacharel em casar, se êle gostava de Cecília? Nós sabemos que o "inconsciente", então através de uma reação de defesa, perfeitamente explicável, enfrenta a "cousa temida", no sonho para dar o caso como liquidado. 1!:stes sonhos são bas._ tante frequentes; e são c~amados .Pº;, Gastão Perei~a ~a Silv~, de: _ Realização de um deseJo negativo , por 1fm deseJo mconsc1ente que tinha Machado de Assis, em não g_ostar de fazer casar os seus personagens, como observamos na maior parte delas. - 96- ..
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