Revista da Academia Paraense de Letras 1962

~ r . REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS - "Vê aquela janela? Está aberta: embaixo fica um jar- dim. Atire-se d'ali sem medo. - Oh! padre! disse baixinho o bacharel. - Não sou padre, sou tenente do exército. Não diga nada. E o bacharel, atirou-se pela janefa e saiu correndo. Enfim, cansado, ferido, ofegante, caiu nos degraus de pedra de uma casa, que havia no meio do último jardim que atravessara. Olhou para traz. Não viu ninguém; o perseguidor não o acompanhara até ali. Podia vir entret anto. Duarte ergueu-se a custo, subiu os quatro degráus que lhe faltavam e entrou na casa, cuja porta, aberta, dava para uma pequena sala. Nêsse momento, encontra– va-se com o major Lopo Alves, a exclamar: - "Anjo do céu, estás vingado ! Fim do último quadro. Duarte olhou para êle, para mesa, para as paredes, esfregou os olhos, respirou largo. - En– tão! Que tal lhe pareceu ? - Ah! excelente! respondeu o bacha– rel, levantando-se ! - Paixões fortes, não ? - Fortissimas. Que horas são ? Deram duas horas agora mesmo. Duarte acompanhou o major até a porta, respirou mais uma vez e disse consigo mesmo: "Ninfa, dôce amiga, fantasia inquieta e fértil, tu me salvaste de uma ruim peça com um sonho original, substituiste-me o tédio por um pes.1- delo, foi um bom negócio. Um negócio e uma grave lição: - provaste-me que muitas vezes o melhor drâma está no espectador e não no palco". A análise do sonho de Duarte, revela-nos de início um sonho de inquietação e desejos sexuais, em que os orgãos genitais são representados simbolicamente por "chinela", botas e sapatos, que são símbolos dos órgãos sexuais femininos, e, "castiçais", "velas" e "pistola", símbolos dos órgãos genitais masculino. Obser– vei a representação de um sonho latente, onde o crime do furto da chinela, é apenas o simbolismo, de uma prisão por defloramen– to, e, que no pensar do próprio Duai·te, a "chinela turca", não vi– nha ser mais do que, "pura metáfora" e "tratava-se do coração de Cecília, que êle roubara". . . . Outro simbolismo também sexual, é àquela expressão ma– temática de: "~ste cavalheiro e eu fazemos um par. ~le, o se– nhor e eu faremos um terno. Ora, terno não é melhor do que par; não é, não pode ser. Um casal é o ideal". Ora todos nós sabemos, que a cópula é um ato entre duas criaturas do séxo opos– to; logo o casal é o ideal. A cêna que se passa, na sala iluminada com velas postas nos castiçais de prata, sôbre a mêsa, onde estava um velho de ca– bêça branca que apr esentava cincoenta e cinco anos; representa orna cêna de interrogatório de defloramento, em que o velho sim– boliza, por ser um homem de idade, o pai da vítima ou o Delegado -95-

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