Revista da Academia Paraense de Letras 1962

REVISTA DA ACADEMIA P ARAENSE DE LETRAS - tste anel, disse o anjo, é o anel de nossa aliança; dor.a– vante és minha espôsa ante à eternidade. E dizeido estas palavras a visão desapareceu" . Passaram-se os anos, e Cecília apesar dos inúmeros preten– dentes que lhe apareceram, conseguiu ficar imunizada dêsse ger– me do amôr, que faz sofrer as criaturas que são contaminadas por êle. Cecília já estava madurona, com "os fios de pratas que lhe serviam de cabelos e molduravam-lhe o rôsto rugado, mas ainda suave", quando recebeu uma carta de Tibúrcio. Mas quem era Ti– búrcio ? Era o primo de Cecília que partira da Côrte na noite em que Cecília fizera o contrato misterioso para independência do coração. Foi justamente Tibúrcio que admirado, de sua prima não haver casado, apesar de sua beleza, quem descobriu o mistério do anel; explicando-lhe que: - "nas vésperas de partir da Côrte quís deixar-lhe uma prova de que o meu amôr era verdadeiro e ·seria eterno. Encomendei êste anel, que o ourives prontificou com o maior cuidado e zêlo. Tinha dois meios de dar-lhe: ou in– troduzir-lhe no dedo, francamente, com a declaração de que era uma lembrança minha que deixara, ou depositá-la no seu touca– dor para que, quando eu já estivesse fóra, aquela lembrança a surpreendesse" ... E para isso, pedia a Tereza sua mucama para que alta noite, na ocasião em que a prima dormiss,E; depois ~a cos– tumada leitura. . . colocasse o anel no seu dedo . É evidente. Isso da visão não passou de dm sonho. Coincidiu o sonho com o fato do anel. E na verdade, quando Cecília, tirou o anel do dêdo, mandado por Tibúrcio, lá estava gravada na parte interna estas iniciais: - T. B . Analisando êsse sonho de Cecília, observei de início, que Machado de _Assis, já possuía embora inconscientemente, uma no– .ção dos sonhos, que são originados, por um "estímulo" ou "exci– tação sensorial externa" (objetiva) provocados por: "luz", que chega aos nossos olhos; o "ruído" que fere os nossos ouvidos; um "cheiro" 9-ualquer que atinge o nosso olfato; um "inseto" que nas dá uma picada etc. Justamente o que se passou com Mariana. Estava sonolenta, ainda impressionada com o sentimento de amôr não correspondido, mêdo de amar; amôr latente, inconsciente · pelo seu primo Tibúrcio, quando ouve o estímulo inicial da pre– sença da mucama, que de mansinho, lhe colocou o anel no dedo. E:sse estímulo externo de fato foi o suficiente, para que se desen– candeasse no inconséiente da jovem, aquele desenrolar de idéias subjetivas: simbolizada no "anjo das donzelas", com promessa de livrá-la das paixões. Considero mesmo, que o símbolo do anél, representa-se inconscientemente, como _um~ "auto-d_efesa''., de sua virgindade contra outro homem que nao fosse o primo Ti- - 92 -

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