Revista da Academia Paraense de Letras 1962

• t REVISTA DA ACADEMIA P ARAENSE DE LETRAS lher? Era homem? Não se distinguia. Tinha êsse aspecto mas– culino e feminino a um_ tempo com que os pintôres reproduzem, as feições dos serafins. Vestia túnica de tecido alvo, coroava a fronte com rosas brancas e despedia dos olhos uma irradiação fantástica ·e impossível de descrever. Andava sem que a esteira do chão rangesse sob os passos. Cecília fitou os olhos na visão e não pode mais desviá-los. A visão chegou-se ao leito da donzela: - Quem és tu ? perguntou Cecília sorrindo, com a alma tranquila e os olhos vivos e alegres diante da figura desconhecida:! -Sou o anjo das donzelas, respondeu a visão com umà– vóz qµe nem era vóz nem música, mas um som que se aproximava 1 de ambas as coisas, articulando palavras como se executasse uma sinfonia do outro mundo. - Que me queres ? -Venho em teu auxilio. -Para que? O anjo pôs as mãos no peito de Cecíâia e respondeu: - Para salvar-te. -Ah! - Sou o anjo das donzelas, continuou a visão, isto é, o anjo' que protege as mulheres que atravessam a vida sem amar, sem· depôr '10 altar dos amôres uma só gôta do oleo celeste com qué•· ,·enera o "Deus Menino". -Sim? - É verdade. Queres que eu te proteja ? Que te im-: prima na fronte o sinal fatídico ante o qual recuarão tôdas as ten-' tativas, curvar-se-ão todos os respeitos ? ' -Quero! - Queres que com esse bafejo meu te fique eternamente gravado o emblêma da eterna virgindade ? -Quero. - Queres que eu te garanta em vida as palmas verdes e- viçosas que cabem as que podem atravessar o lôdo da vida sem salpicar o vestido branco de pureza que receberam do berço? :, -Quero. _ Prometes que nunca, nunca, nunca, te arrependeráS. · deste pacto, e que quaisquer que sejam as contingências da vida, abençoarás a tua solidão ? 1 -Quero. . _ Pois bem ! Estás livre, donzela, estás inteiramente; livre das paixões. Podes entrar agora, como Daniel, entre _os 1 leões ferozes; nada te fará mal". . . . "Depois tirou do dedo um anel e introduziu no dedo da môça, que não opunha a nenhum dêstes atos, nem resistência nem admiração" ... - - 91 -

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