Revista da Academia Paraense de Letras 1962
• REVISTA DA ACADEMIA P ARAENSE DE LETRAS Genoveva, teve outro sonho: - "que viu, porém, o marido, a prin- · cfpio severo, depois triste, perguntando-lhe como é que esquecera a promessa. Genoveva não respondeu nada; tinha a boca tapada por um carrasco, que era não menos que Oliveira. - Responde, Genoveva ! -Ah! Ah! Tu esqueceste tudo: Estás condenada ao inferno ! · Uma lingua de fôgo lambeu a parte do céu, que se conser- vava azul, porque todo o resto era um amontoado de nuvens carre– gadas de tempestade. Do meio delas saiu um vento furioso, que pegou da moça, do defunto e do noivo e os levou por uma estrada fóra, estreita, lamacenta, cheia de cobras. E o carrasco tapava-lhe a bôca, e ela mal podia gemer uns gritos abafados. -Ah! Ah! Parou o vento, as cobras ergueram-se do chão e dispersa– ram-se no ar, entrando cada uma pelo céu dentro; algumas fica– ram com a cauda de fóra. Genoveva sentiu-se livre; desaparecera o carrasco, e o defunto espôso de pé, pôslhe a mão na cabêça e disse com vós profética: - morrerás se casares!" Psicanalisando os sonhos de Genoveva, encontrei um sim– bolismo tôdo sexual, como é natural, poder-se encontrar no sub– consciente de uma jovem viúva bonita e· sensual, às vésperas do csaam~nto. O "campo", o "bosque", e o "matagal", inconscientemente representam simboltcamente o "pubis" dos dois séxos. A "pla– nície", a "paisagem", o "mar", a "praça" e a "rua", como repre– sentação simbólica da natureza femenina. . No primeiro sonho, o "finado estendeu-lhe as mãos, e pe– gou nas dela; depois enlaçando-a pela cintura, começou uma valsa! rápida e lúgubre, giro de loucos, em que Genoveva não podia fitar nada" -Valsa é uma dança, e dança é símbolo da cópula. Como estudioso da psicanálise, estou percebendo uma pergunta do sub– consciente dos senhores. Por que motivo apareceu no sonho de Genoveva, ela dançando com o finado marido e não com o noivo Oliveira ? E eu vos responderei, que isso se deve a "válvula cen– sôra Super-Égo", que no sonho, embora se mantenha relaxada, não perde a sua função de censura; de modo que, em vez de apa– recer o noivo Oliveira, o que não era admissível:, sob o ponto de vista moral, aparece o Nhonhô, marido defunto, por modo que o seu "super-égo", permitiu a cópula entre conjuges. No segundo sonho, na semana do casamento, Genoveva viu" - uma estrada estreita, lamacenta, cheia de "cobras", "Co– bra" e •~serpente", são símbolos do "Falos" - O vento é símbolo de desejo sexual. Tanto que o Cinema, representa como símbolo -89-
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