Revista da Academia Paraense de Letras 1962
li . ' REVISTA DA ACADEMIA P ARAENSE DE LETRAS ficaram, rôsto a rôsto; uma., duas, três horas, até que alguém veio acordã-los. - Faz favôr de entrar. Era o criado que o mandava en– trar. Evaristo têve um sobressalto. Deu com um homem, o mes– mo criado que recebera o seu cartão de visita. Levantou-se; Ma– riana recolheu-se à tela, que pendia da parede, onde êle a viu outra vez, trajada à moda de 1. 865, os pensamentos, os gestos e atos mediram-se por outro tempo, que não o tempo; fez-se tudo em cinco ou seis minutos, que tantos foram os que o criado de~– pendeu em levar o cartão e trazer o convite" . Assim terminou o lindo sonho acordado de Evaristo; que Machado de Assis· fêz de Mariana uma adúltera, como quase tôdas as mulheres de sua obra, e, que o criador de Capitú, devido o seu temperamento esquizóide e tímido, lança mão na maioria das vezes, do artíficio dos sonhos, para dotar o adultério na mulher de suas .personagens, como: Ma– riana, Capitú e tantas outras. Aliás, é o próprio Raimundo Magalhães Junior, quem nos diz que: - "O macabTO das historias de Machado de Assis não está nunca na realidade, mas no sonho". Nesse sonho acordado de Evaris~o, analisei o desejo inconsciente do crime, o "parrici– dio", a vontade de Mariana matar o seu próprio pai, que se pode justificar perfeitamente, como um desejo inconsciente recalcado, do autor que foi portador do "Complexo de fdipo, em desejar ma– tar inconscientemente o seu próprio pai. "Um sonho e outro sonho" t um conto, consciente ou inconscientemente dedicado as viúvas novas que se casam, deixando de lado, as promessas e juras . que fazem aos maridos, de que jamais pertencerão a outro homem, se os maridos morrerem. t o caso da viúva do Marcondes, a simpatica Genoveva, de vinte e quatro (24) anos, bonita e rica, e, que o retrato do marido, o bacharel Marcondes, ou "Nhonhô", pelo nome familiar, vivia no quarto dela, pendente da parede, mol– dura de ouro, coberta de crépe. Tôdas as noites, Genoveva, de– pois de rezar a Nossa Senhora, não deitava sem lançar o último olhar ao retrato, que parecia olhar para ela". Foi essa Genoveva que depois de resistir os galanteios dos insinuantes: Carlos, Roberto, Lucas, Casimiro e outros, muitos pretendentes, não resistiu a tentação do também bacharel Olivei– ra, apaixonando-se por êle ~ esque ..cendo-se do compromisso de amôr eterno, pelo seu falecido esposo. Genoveva uma noite so– nhou que: - "Apareceu-lhe o marido, vestido de prêto, como se enterrara, e pôs-lhe a mão na cabeça. Estav~m em um lugar que n·ão era bem sala nem rua, uma coisa intermédia, vaga, sem -87-
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