Revista da Academia Paraense de Letras 1962

REvlsT.A. DA AcADnfiA PARAENSE DE LETRAs Mariana (várias histórias) . Nesse conto deparamos com o "sonho acordado", de Eva- r:sto, quand_o havendo regressado da Europa, vai à casa de Ma– riana, sua namorada de adol~scência. Enquanto a esperava na sala, viu "pendente da parede", por cima do canapé, estava O re– trato ~e sua ~x-namroada. Tinha sido pintado quando ela con– t,ava vmte e cmco anos; a moldura, dourado uma só ·vez, descas– cando em alguns lugares, contrastando com a figura ridente e fresca. O tempo não descolara a formosura. Mariana estava ali trajada à moda de 1.865, com os seus lindos olhos redondos e na: morados". · E veio então o sonho acordado de Evaristo, que provavel– mente seria, uma reminiscência de sua vida passada com a na– morada; e, numa "associação livre de idéias", viu como se estivesse realizando, aquêles momentos que o tornavam feliz e que êle de– sejou realizar-se novamente - "Foi quando Mariana desceu da téla e da moldura, e veio sentar-se defronte de Evaristo, inclinou. se, estendeu os braços _e abriu as mãos. Evaristo entregou-lhe as suas e as quatro apertaram-se cordialmente. Nenhum perguntou . nada que se referisse ao passado; embos estavam no presente, as horas tinham parado, tão instantâneamente e tão fixas, que pa– reciam haver sido ensaiadas na véspera para esta representação única e interminável. Evaristo falou no marido, o que Mariana respondeu: - "Não venhas outra vez com essa eterna desconfiança. Que quer você que eu faça ? Xavier é meu marido; não hei de mandá-lo embora nem castigá-lo, nem matá-lo, só porque eu e você nos amamos. - Não digo que o mates; mas tu o amas, Mariana. - Amo-te e a ninguém mais, respondeu ela, evitando assim a resposta negativa, que lhe pareceu demasiado crua. Assim con– seguiu Evaristo a confissão de Mariana que não amava o mmido, e que o casamento foi realizado por imposição de seus pais; e, "que de lágrimas verte~ por êle! · Que de maldições lhe sai:am do coração contra os pais, e foram sufocadas por ela, que temia a Deus e não quizera que essas palavras, como armas de parricídio, a co~denassem, pior, que ao inferno, à eterna, separação do ho– mem a quem amava". -, Mariana ergueu-se ~ntão, por sua vez, e foi ajoelhar-se-lhe aos pes, c~m os braço! nos Joel~os dele: Os ca– belos caídos enquadravam tao bem o rosto, que ele sentiu-se não ser um gênio para copiá-la e lega-la .ao mundo. Disse-lhe isso, mas a môça não resp_ond_eu palavra; tinha os olhos fitos nêle, su– plicantes. Evaristo mclinou-se, cravando nela os seus, e ass4D - 86 - ti ·J J

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