Revista da Academia Paraense de Letras 1962

l REVISTA DA ACADEMIA P ARAENSE DE ,LETRAS tência - E como resposta obteve: - · "Sim ·verme, tu vives. Não receies perder êsse andrajo que é teu orgulho; provarás ainda por algumas horas, ·o pão da dôr e o vinho dà rniséria. · Vives: agora mesmo que· ensandeceste, vives; e se a tua consciência rehouver um instante de sagacidade, tu dirás que queres· vivêr": · Quando a "Natureza" disse-lhe que não era só a vida más . ' também a morte, e, que Braz Cubas, estava prestes a devolver-lhe o que havia emprestado, êle sentiu-se decompor a si mesmo,·e ·en° tão "com olhos súplices pediu mais alguns anos. - "Pobre minuto! exclamou. Para que que_res tu mais alguns. instantes de vida? Para devorar e seres devorado depois? Não estás fartq , dq espe– táculo e da luta? Conheces de sobejo tudo o que te depáref me– nos torpe ou menos aflitivo: o alvor do dia, a melancolia da tarde, a quietude da noite, os aspectos da terra, o sôno, enfim, o maior benefício das minhas mãos. Que mais queres tu, sublime idiota?'' E como resposta. -· "Vivêr sómente, não te peço mais ·nada. Quem me pôs no coração êste amôr da vida, senão tu ? E, se eu amo a vida, por que te hás de golpear a ti mesma, ·matando-me? - "Por que já não preciso de ti", e dizendo-lhe isso, arrebatou-lhe ao alto de uma montanha e, para mostrar-lhe lá em baixo, "uma redu– ção dos séculos e um desfil_ar ~e.tôdos êles, as raças tô~as, tôdas as paixões, o tumulto dos 1mpenos, a guerra dos apetites e dos ódios a destruição recíproca dos sêres e das coisas". E era assim que Machado de Assis, via lá de dentro do seu "sub-consciente, censurado pelo seu "super-ego", a vida, a sociedade e a huma– nidade, que êle fingia detest~r eA od_ia,~, n~a~ amava. Porque, de– vido O seu "carater de amb1vale~C1a , vivia o "seu duplo", tão bem estudado por Gustavo Corçao. A sua falsa personalidade, na sociedade, no seu lar e na Academia, e, a sua verdadeira per– sonalidade, na vida de sua~, pers?i:iage~s do,~ seus roman<;es e con– tos· onde refletiam o seu narc1s1smo , o sado-masoqmsmo", as "p~rversões sexuais", ~s "megalomanias", os "adultérios", os "sui– cídios", e os "homicídios" - enfim, tudo que cont;astava_com vida daquele homem, que entrava na ponta dos pes, para não ª t·urbar O trabalho de seu chefe na Seérearia de Agricultura. per . . Psicanaliticamente o sonho acordado de Braz Cubas, vendo- se ·subir n'uma m;>ntanh~, da qual avi~ta um ~mplo panorâma, ara mostrar-lhe la e~ba!xo, uma redu~ao dos seculos ... Incons– ~ientémente é a reallz~çao de um çles~Jo latent:, de "ascensão", necessidade de expandir-se e de evolui~·- . Anseio de um mundo , amplo para desenvol.yer as suas atividades: o que realmente mais · "d d M h d d A . . ·t ·, ·em relação com a v1 a e ac a o e ss1s, que possma !!s: vontade de subir, de ev~luir, e~o~smo de chegar de tipógrafo . alto funcionário da Secretna da _Agncultura, Presidente da Aéa– ~~niia Brasileira de Letras e o maior dos escritores brasileiros. -85-·

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