Revista da Academia Paraense de Letras 1962

REVISTA DA ACADEMIA P ARAENSE DE LETRAS um gesto de adeus, qizendo ainda: "A medicina, a nossa Escola". E o coche partia entre invejas e agradecimentos". _ . <1 Os sonhos acordados são tão mais frequentes, quanto maior fôr o gráu do egoísmo humano, da ambição, da necessidade do domínio e dos desejos eróticos, quase sempre insatisfeitos. Jus– tamente o que eu observei na vida de ·Machado de Assis, atrayés do estudo de sua biografia. Diz Gastão Pereira da Silva, psica– nalista bra~ileiro, a respeito dos sonhos acordados que: - "N:ão devemos, além disso, confundir os sonhos acordados de inspira– ção (imaginação criadora) com os outros. Nestes há, incontesta– yelmente, em parte, uma "contribuição inconsciente". Nos de– mais (sonhos de ambições egoístas) a contribuição inconsciente é quase nula. O sonho acordado é aqui, pode-se dizer, consciente. D~ qualquer modo, porém, êles, os sonhos acordados, realizam i;empre a satisfação dos desejos reprimidos. É o caso do sonho acordado de Bentinho, além de ser um desejo consciente, de não querer ser padre, por causa de Capitú; ou melhor um sonho de egoísmo e ·ambição, em que o seu consciente apelou para uma exaltação subjetiva, na qual se sentiu dentro da vida que deseja– ria viver, conquistando dessa maneira, todos os ideais irrealiza– veis e vedados pela realidade, mas que o alcançou através do so– nho acordado que teve quando viu o carro do Imperador passar em frente à Escola de Medicina. O delírio de Braz Cubas Na verdade o "delírio de Braz Cubas", parece-me mais um '•'sonho acordado" ou em 'vigilia", sob o aspecto psicanalítico do que propriamente o delírio de um psicopata. O que se passou naquele cérebro durante uns vinte a trinta minutos, foi na reali– <;iade uma "associação livre de idéias", em que o seu "gato sult ão" que brincava à porta da alcôva, com uma bola de papél . . . trans– formava-se num gigantesco "Hipopótamo" e que galopava numa velocidade mais rápida do que o raio - arrebatando com Braz C;1bas", que s~ d~va de confessar que s~ntia umas tais ou quais cocegas de curiosidade por saber onde ficava a origem dos sécu– Í~s, ·se era tão 1!1isteri?sa como a origem do Nilo, e sobretudo se valia alguma coISa mais ou menos do que a çonsumação dos mes– mos séculos: "reflexões de cérebro enfêrmo". E o encontro no "Eden", com aquela figura de mulher, "fitando-lhe com uns olhos r~til~ntE:_s co!Il? ~ sól", e! 9ue se dizia ser a "Natureza" ou "Pan– dora...ma~ e m1m1ga do v1s1Ja~te. Do diálogo entre os dois, sente– s~ o mstmto de conser.vaçao , esse amôr e apêgo à vida que exis– tia em Machado de Assis, quando Braz Cubas indagando s · · t Ou S Unha - " ' e VlVIa, en err a s nas maos, como para certificar-se da sua exis- - 84- t1 J

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