Revista da Academia Paraense de Letras 1962
1 t 1 l , l " REVISTA DA ACADEMIA P ARAENSE DE LETRAS o Bentinho, filho da viúva Dona Gloria, com a Capitolina, mais nova do que êle apenas dois anos. A célebre Capitú, a quem José Dias, o pagem de Bentinho, advertiu-lhe que tivesse cuidado com ela, que possuía "os olhos de cigana obliqua e dissimulada" . . "Olhos de ressaca". E que a viúva de Pedro de Albuquerque San– tiago tinha em projeto de mandar o filho para o seminário,' a fim de ser padre. Bentinho por causa do namôro de Capitú, não de– sejava ser padre, negando-se de ir para o seminário. Um belo dia, quando vinha do colégio, aconteceu encontrar-se com o carro do Imperador, que regressava da Escola de Medicina e veio-lhe a idéia de pedir ao Imperador, que intercedesse junto a sua mãe, para que ela não o internasse no seminário. Nesse momento, te,; ve o seguinte sonho acordado ou em vigília, que os alemães cha– mam de: "Tagtraume". Vi então o imperador escutando-me, refle– tindo e acabando por dizer que sim, que iria falar a minha mãe; eu beijava-lhe a mão, com lagrimas. E logo me achei em casa, à espera, até que ouvi os batedores e o piquete de cavalaria: é o imperador, é o imperador! Tôda a gente chegava às janelas para vê-lo passar, mas não passava, o coche parava a nossa porta, o im– perador apeava-se e entrava. Grande alvoroço na vizinhança. O imperador entrou em casa de D. Glória! Que será ? Que não será?' A nossa familia saia a recebê-lo; minha mãe era a primeira que lhe beijava a mão. Então o imperador, todo risonho, sem entrar na sala ou entrando, - não me lembra bem, os sonhos são muit~ vez confusos - (o grifo é meu) pedia a minha mãe que me não fizesse padre - e ela, lisonjeada e obediente, prometia que não. - A medicina - por que lhe não manda ensinar medicina? -Uma vez que é do agrado de Vossa magestade. - Mande ensinar-lhe medicina: é uma bonita carreira, e nós temos aqui bons professores. Nunca foi a nossa Escola ? É uma bela Escola. Já temos médicos de primeira ordem, qu~ podem hombrear com os melhores de outras terras. A medicina é uma grande ciência; basta só isto de dar a saúde aos outros, conhecer as moléstias, combate-las, vence-las. . . A senhora mes– mo há de ter visto milagres. Seu marido morreu, mas a doenç~ era fatal:, e êle não tinha cuidado em si ... É uma bonita carreira; mande-o para a nossa Escola. Faça isso por mim, sim? - Você quer, Bentinho ? - Mamãe querendo ... -- Quero, meu filho. Sua Majestade manda. Então o im- perador dava outra vez a mão a beijar, e saía, acompanhado de to– dos nós, a rua cheia de gente, as janelas atopetadas, um silêncio de assombro; o imperador entrava no coche, inclinava-se e fazia -83-
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