Revista da Academia Paraense de Letras 1962
REvlsTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS ;µf abetizados, letrados e até mesmo nos médicos e cirurgiões. Quanto ao "lapso de escrita", citado também, por Peregrino Ju– nior, que Machado de Assis, tinha verdadeira fobia à molestia, que: - "riscou das edições ulteriores das - "Memorias Póstumas de Braz Cubas" - a palavra "epiléptica", que havia deixado es– capar na primeira, ao descrever o padecimento de Virgilia diante da morte do amante: - "Não digo que se carpisse: não digo que se deixasse rolar pelo chão, epilética" (o grifo é meu). · Nas edi– ções seguintes a frase apareceu assim corrigida: - "Não digo que se carpisse, não digo que se deixasse rolar pelo chão, convulsa" . .. "Mesmo quando abria o coração a amigos fraternos, como Mario de Alencar, não falava claro a respeito de sua doença". Empregava sempre, em suas e.artas, quando se referia ao seu estado de saúde: a "fenômenos nervosos, algumas coisas esqui– sitas". "Noutra carta, esta endereçada a José Veríssimo, datada de 3-12-1.898, há uma referência evidente, embora velada e dis– creta, às surpresas do seu mal, cujo nome, entretanto, não cita: - "Quanto a Revista, era ontem dia marcado e hoje também, mas ontem os destinos o não quiseram, estive doente e recolhi-me logo" (o grifo é do próprio Machado). Com êsse disfarce - os destinos, quís êle decerto dizer: um ataque (diz Peregrino Junior) "Só uma vez que me conste, fêz uma alusão mais clara ao seu grande mal (o grifo é de Peregrino Jr.). Foi numa carta a Mario de Alencar (a correspondência dos dois amigos é cheia de confidência e conse– lhos sôbre os achaques que o atormentavam), datada de 8 de feve– reiro de 1.908. Diz assim um trecho dessa carta: - "A minha saúde não vai mal, exceto o que lhe direi adiante, e não é a "au– sência" que senti ontem, esta foi rápida, mas tão completa, que não me entendi ao tornar d'ela. Daí a pouco entendi tudo, e dei– xei-me estar". Foi essa a única referência direta que se me de– parou, em tôda a sua correspondência, ao "morbus sacer" de que êle era portador notório. Embora nas cartas escritas aos seus poucos amigos diletos, com? Mario_ de Alencar, êle revelasse o seu mal fazia-o de uma maneira mmto censurada e discretamente· I I I sentindo-se o pudor e o horror a sua doença, nas. entrelinhas de suas letras; como se a sua vida, fôsse a sua morte; e as persona– gens dos livros que escreveu, fossem a sua verdadeira vida. Os sonhos de suas personagens - O sonho acordado de Bentinho do Dom Casmurro. - "Der Traum Ein Leben". (O sonho é vida): Todos que leram o Dom Casmurro, de Machado de Assis que na minha modesta opinião, depois de "-Memória Póstuma~ de Braz Cubas" - é o melhor romance dêsse escritor brasileiro ·sabem perfeitamente do idilio amoroso que desde menino possui~ -82- ,1,
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