Revista da Academia Paraense de Letras 1962

t, r ... REvi:STA DA ACADEMIA P ARAEN SE DE LETRAS.:. ~asa,. com· grand·e_ ~adnho e solicitude. Mas,- ao chegar à cas·a: ilu~tre ?ªs ·L~ranJe1:ras, em vez de deixar o ·enfêrm·o no leito ~ r~t1rar-se delicadamente, permaneceu o médico ao lado dêle, .me~ . d1cando-o, confortando-o, esperando que êle tornasse. ·. . Logo, qu_e recobrou.a consciência e viu aquele estranho a seu lado, Mã..,; c~ado de Assis, em lugar de um movimento elementar de grati:– dao, o qu~ fêz foi um gesto de irritação e mau humôr. E como· o professor Dias de Barros não compreendesse logo, êle falou cla~– ro, apesar de tímido e delicadissimo, exprimindo-lhe sem ,rodeios, a sua contrariedade: - "Que faz o senhôr aqui ? - Pode retirar~: se". · Referindo-lhe eu êste cµrioso episódio, o meu ilustre e pre– zado mestre professor Rocha Vaz, contou-me um fato, que vem confirmar o horror de Machado .de Assis à epilepsia. Tendo o pr ofessor Dias de B.arros publicado um artigo sôbre - "A epilep.-:, sia de Napoleão", o professor Rocha Vaz escreveu outro; provan,., do, de acôrdo com o depoimento clinico de Morgagnj. sôbre.enfer~ midade do grande Corso, que o exilado de Sta. Helena não :fôra propriamente u_m epiléptico, mas apenas um cardiopata.' As' érises convulsivas que êle apresentara, corriam por conta, não de epilepsia essencial, mas de um simples bloqueio do coração. Na 7 poleão, segundo .os documentos divulgados por Morgagni, era ví-· tima tão sómente de uma "Síndrome de Stocks Adams". E o ar.,. 1igo do professor Rocha Vaz, discutindo o assunto de conformida➔ de com as idéias modernas, colocava o caso da doença de N apo➔ leão nos seus justos termos. Era natural, porém, que só tivesse interessado aos médicos, por que debatia a materia sob o aspecto puramente cientifico. Entretanto, mal foi p~~~cado êsse t:ab.a.:. lho Machado de Assis, procurou-o, para fellc1ta-lo: - Assim é. qu~ se discute um caso clínico Doutor. O senhôr esclareceu admi~ ravelmente essa questão. Quando eu lhe narrei o episódio do professor Dias·de Bar_~ ros que ele ainda então ignorava, O' professor Rocha Vaz com– pr~endeu a dupla significaçã? ?ªs felicitações. d<: Machado d<: As-! sis: _ êste se vingara do medico que lhe ass1stira a uma cnse e encontrara explicação mais benigna e aceitável J?~ra 9 seu pró~: prio mal" . . . Psicanalitican:entE_: falando, as felicitaçoes do au– tôr de Yayá Garcia, ~ad_a mais _vem a ser, do gue o resultado d~ satisfação de um deseJo mconsciente; ele gostana que o mesmo di– agnóstico "Síndrome· de Stocks ~damt ~osse dado ao seu caso, embora para satisfazer uma ilus_ao ps1qmca, d~. um mal que _ele onhecia perfeitamente que era mcuravel. Alias, eu tenho a 1m- c -. 0 que êsse fenômeno anímico, trata-se de uma "auto-defe- pressa , 1 - « · ti t d " uramente instintiva, que tem re açao com o ms n o e con- sa -' p - 0 ,, · ou "instinto de vida" . Fenômeno êsse ·que se observa,; servaça , • t t · b · tànto pos doentes analfabetos, 1gnoran es, como am em, nos. -81-

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