Revista da Academia Paraense de Letras 1962

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS do autor de "Hel,ena", senão os sonhos das personagens na sua obra literária ? E a vida que apresentava na sociedade, senão a sua morte ? Logo justificado está o assunto desta conferência, no mês em que se comemora o quinquagésimo aniversário de sua morte. Graça Aranha reconhece que a vida de Machado de Assis está vivida e vazada em seus livros. E Peregrino Junior opina gue: - "Aquele próprio tom conven~i~nal de dissimul~ç~o, de hi– pocrisia (meia duzia de gestos, de habitos,A de frases ~picas) que lhe marca a personalidade, longe de esconde-lo,. descobria-o e :eve– lava-o mais profundamente, porque colocava .ª luz d? sol, diante de nossos olhos curiosos e espantados, as raizes mais profundas e obscuras do seu temperamento mórbido. A polidez, a obsequio– sidade, o egoísmo, o ?rgulho, o am_ôr das minúci~s, a tenaci,d~de, 0 pessimismo, a fidelidade aos am1gos - tudo sao traços tip1cos do seu carater, do seu temperamento e da sua constituição pato– lógica . E a justificativa de que a sua vida foi a sua morte, está no seu estado consciente, objetivo do pudor que o autor de - "Me– morial de Aires" - tinha de sua enfermidade a Epilepsia. É fato notório que Machado de Assis, possuía verdadeiro horror a sua doença, que ele denominava de "umas coisas esquisitas", para não chamar o seu nome. Apenas nos seus "atos falhados" como acontecera no caso citado por D. Lucia Miguel Pereira, que foi referido a Afonso Arinos de Melo Franco, por Magalhães de Aze– vedo: "Um dia, entrando n'uma farmácia em companhia de Ma– galhães de Azevedo, o farmaceutico contou-lhes horrorizado um ataque ~Pi!ético, q1:1e_socorr~ra pouco antes. Machado com~çou a dar sma1s de afliçao, e aflnal, não se contendo, exclamou: - Cale-se, por favor, que eu também sou epiléptico e estou sentindo que vou ter alguma coisa". · . "" O Pro!es_s?,r Peregrino_Junior, é de opinião que O episódio seJa i~verosunil , pela maneira como foi contado; pois "Machado de Assis nem sequer pronunciava a palavra _ epilepsia _ De resto, ne1:1 mesmo à Carolina confessou êle jamais O seu mal. Como aceitar que o contasse a um estranho ?" A~e~~ta-me o meu prezado amigo aut~r de · "Historias da tmazoi:ia , que eu aceite como verdadeira a história contada por ";i~11}!:a~e ,~z~redo; porq~anto a Psicoanálise explica pelos • , 0 ~ , • apsos. orais" e "Lapsos de escrita" êsse me- ~~n~sr~º J,siq~ico mco~sciente, da burlação da "válvuÍa censora _P · g . , ,P_ lo conflito que o perturba, nesse caso foi a narra– çao do ep1sod10 do ataque de um epiléptico. Ainda do horror a sua do~nça, conta-nos Peregrino Junior que: - "Certa feita su-· preend1do por um ataque n'um b d A " ' Dr, Dias de Barros on e, ele fora socorrido pe!o Prof. , que o botou no seu carro e o conduziu para - 80 -

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