Revista da Academia Paraense de Letras 1962

MEUS GRANDES AMIGOS SILENCIOSOS Acadêmico EDGAR PROENÇA Na manhã de hoje, de sol medroso, manhã de inverno e nostalgia, não me apeteceu sair de casa. É sempre nos dias do Senhor, obediente aos preceitos bíblico$, que a gente se decide a remexer papéis velhos, evo– car passagens vividas, sentir _que o tempo vai fugindo, le– vando tudo, esperanças, mocidade, tédio e sonhos felizes. Resolvi ficar em casa encolhendo-me numa cadeira de lona, acocorado como enchovas em lata de conserva. Puz-me a refletir muito tempp sôbre os vai-e-vens da vida. Comecei a conversar comigo mesmo. Um instante afetuoso, afetuoso e leal com a minha consciência. Olho o relógio trepado na parede. Como a vida, marca os minutos e mor– finiza o nosso pensamento, quando se estâ entregue à mor– bidês das meditações, dos solilóquios. Encaminho-me, agora, para o meu gabinete de es– tudo, e vejo-me dentro do reduto amigo de minhas estantes. Lembro-me de algumas estrofes, cheias de psicológicas ver– dades: "Com que litúrgica doçura Olho meus livros nas estantes, enfileiracffis, vigilantes E todos bem da mesma altura ! As alegrias que lhes devo, Valem os golpes que sofri. Num Lamartine dorme um trevo que há muitos anos recebi ... " Recordando êsses versos, olho, agora, melhor os meus livros. Vem-me à lembrança_o que disse o cintilante Ben– jamin Costallat : "Quando fico bem enjoado dos homens 73 -

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