Revista da Academia Paraense de Letras 1962

Três crônicas do acadêmico SANTANA MARQUES JACQUES FLORES Pediram certa vez a um cidadão que definisse o fenô– meno. :mie pensou muito e respondeu com esta argumenta– ção interessante : "Conhece o senhor o que é uma vaca? Sabe bem o que é uma árvore ? Já viu uma vaca a trepar numa árvore ? Pois bem, no dia em que o senhor vir uma vaca trepada numa árvore, eis ai um fenômeno . " Os meus leitores não ignoram o que é um poeta . Não desconhecem o que é a polícia no mundo inteiro, especial– mente no Pará. Pois bem, coloquem um poeta durante trinta e sete anos numa repartição de polícia, sem êle pra– ticar uma violência, sem perder jamais o ideal, guardando a alegria e a despreocupação e o bom humor de sua eterna juventude "sempre vencida e sempre renascente", sem •per– tencer a camôrras, corrilhos ou correntes que disputam a primazia dos lucros, das graças e da sabujice, mantendo a sua serenidade no meio da violência, a honestidade num ambiente de corrupção e _imaginação ardente onde predo– mina o cálculo frio, cumprindo o seu dever sem agredir os direitos de ninguém, e não saindo de lá pela porta estreita de um inquérito administrativo onde a política coloca um reposteiro, mas aplaudido por todos os corações a lembrança da sua simplicidade sincera e de sua camaradagem fraternal - eis um fenômeno. E êsse fenôm~no se chama Jacques Flores. Pertence Jacques Flores a umà geração que Dalcídio Ju– randir chamou de "gm-ação do peixe frito" . As ôstras eram ravas, o caviar um sonho. Barato, ao alcance de todos os tostões, o peixe frito nas tascas do Ver-o-Peso. :mste comen– tarista, sem ser poeta, chegou a lambiscar cqm De Campos Ribeiro, Bruno de Menezes e Jacques Flores, as suas lascas de tainha, temperadas de anedotas brejeiras, versos espontâ– neos palpitações de uma vida cujas águas ainda não tinham sido 'turvadas pela luta áspera na conquista do pão quoti-

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