Revista da Academia Paraense de Letras 1962
REVISTA DA ACADEMIA P ARAENSE DE LETRAS Os dias foram se sucedendo e nada fazia diminuir 0 grande acervo de mágoas que conturbava o espírito de Mar– cos Ibiapina. A princípió era a não conformação com ,a realidade das cousas, depois, a indignação e a ineredulidade de que 0 tivesem espoliado do maior bem da terra. Um dia, porém, êle amanheceu mais tranquilo, como se um lenitivo amortecedor caísse sôbre os seus pesares. Desde aí, Marcos conformou.se com o irremediável e não mais procurou apegar-se à vã quiméra de uma hipo 1 t é– tica reconciliação; que costuma ser o pretexto das almas fracas e incapazes de sustentarem com heroísmo tôdas as vicissitudes da luta, para alienarem de si os sofrimentos mo– pessr:HS invejosas - disse Luz, com os olhc"1 húmi6.os. r-ai.s, e comprarem a comiseração do ente amado, a trôco de uma cobardia. É dessa luta decisiva que nasce a geração dos homens sem mancha; ou, a irmandade dos eternos enganados pelas mulheres. Finalmente, uma tarde, seu amigo Orlando Alves, que estava no desconhecimento dos seus amores, veio buscá-lo · para um passeio à Praça da República. E:m domingo magro, e a Avenida Serzedelo Corrêa, larga e arborizada, estava pontilhada de grupos de passeian. tes que se dirigiam à praça referida, onde uma banda mili– tar dava animada retreta. o odor das lanças-perfumes "Rhodo" e · a policromia das serpentinas davam feição característica àquela tarde in– vernosa, onde grupos de donzelas faztam a "promenade" ao longo das alamêdas . Marcos em companhia de Orlando pôs-se a ouvir o concêrto, achando que um pouco de melodia era necessária ao seu coração. Ao passar um rancho de senhoritas, Orlando disse a Marcos: _ Conheces a Maria da Luz ? e _ Conheço, respondeu Marcos, empalidecendo. _ Olha aquela garota que ali vai, como se parece com ela! . De fato. A semelhança era tal que produziu forte abalo em Marcos. _ A .propósito, continuou Orlando, - sabes que essa pobre moça foi vítima de _uma chantage ? ... _ conta isso, pedm Marcos com voz trêmula. Sabes que o Olaudionor gostava deia? (Era O tal). - .62-
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