Revista da Academia Paraense de Letras 1962
o úLTIMO ADEUS MURILO MENEZES Ocupante da Cadeira n. 13 "Dom Romualdo de Seixas" MARCOS !BIAFINA era um espírito reto e generoso. Aos 25 anos tinha do mundo uma compreensão absolutista do é, ou não é. Costumava aparar o pião na unha, como se diz. Na política ou na vida do pensamento não admitia que houvesse a mudança das idé~as; e no amor só compreen– dia o culto de uma sinceridade infinita. No entanto devia se lembrar que o amor é a mais vo– lúvel das paµões, e a única fôrça que o contém na linha é o cumprimento do dever, ou a gratidão e admiração pela no– breza do caráter. E que nos casamentos, füe raramente ultrapassa ia lua / de mel. Mas está muito bem assim, dizem os filósofos =-, por– que afinal de contas, é êle uma doença da imaginação. Porém, quanto mal se evitaria, se as de Marcos, fôs– sem as idéias do mundo; se fôsse possível a cada um dos amantes dizer por sua vez : "já não te amo; sinto que se extingue em mim a ternura que sentia por ti". Era bonito porque não haveria o fingimento. Mas mataria .aquilo que nas uniões sexuais alicerça o futuro dos lares : que é a so– lidariedade, a mútua aquilatação dos valores, e aquela sere– nidade construtiva argamassada pela amizade. Um dia Marcos Ibiapina teve uma pane na sua vida emocional. As razões psicológicas, os motivos culminantes que em– panavam desde alguns dias o bem estar da sua felicidade tranquila tinham bem a sua origem numa amarga surpresa, que se lhe descortinára bruscamente aos olhos, com a incle- .piência de uma crueldade.
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