Revista da Academia Paraense de Letras 1962

REVISTA DA ACADEMIA P ARAENSE DE LETRAS Esquecido das verdades eternas, esforçando-se, inutiL mente, por aniquilar a verdadeira noção de Deus, o homem contemporâneo, no cúmulo da insensatez e do orgulho, pro– cura eliminar o seu maior brazão de glória, consubstanciado na dignidade da pessoa humana. Faz por não compreender aue somente a origem divina, unicamente sua participação da própria natureza d~ J:?eus, empresta à criatura ra~ional a superioridade que a d1stmgue e eleva entre os demais seres do Universo. A humanidade dos tempos da bomba atômica não basta esta simples participação com a natureza div~l:. _Quer ser O próprio Deus, independente de qualquer suJe!çao de ordem espiritual, senhora soberana, absoluta, de todas as 1'nas •ações e desejos. É a vaidade, no requinte da autovalo– rizacão. É a criatura pretendendo libertar-se do Criador. É a , satanização do mundo. o homem de hoje não se sente bem ao ouvir falar em alma . Esta noção lembra uma origem e uma destinação dL vinas, recorda uma causa suprema dêsse princípio e dêsse fim sobrenaturais. Procura sufocar tais idéias por consti– tuirem estorvos à licenciosidade. Não é bastante ser livre moralmente. Quer ser "dirigido pelas paixões e instintos inferiores", na autorizada expressão de Leonel Franca. Daí decorre, inelutàvelmente, a catástrofe maior dos tempos pre– sentes : a crise do caráter, ferretando uma época em q11e, pela volúpia da autodeificação, o homem esquece a fonte única de sua espiritualidade, para escravizar-se, cegamente, à carne, ao sexo, às riquezas materiais e a outras futilidades · do universo. "De tôdas as misérias humanas a mais miserável é a ausência de Deus", foi advertência severíssima transmitida ao mundo hodierno por um grande e profundo' pensador. Convençamo-nos de que somente pela subordinação à vontade divina a criatura humana se revela verdadeiramente livre. Ao pretender sua autodeifioação, o homem escravisa. se ao maior de tod_os os seus inimigos : o próprio homem . ~stes c~nce1t;>s, M~stre Divino, traduzem o que vai ~8: ~lma coletiva deste_nucleo pro!e~soral, .no dia em que , 1 mciando as com_e~oraçoes do sexagesrmo amversário de nossa Faculdade de Direito, tua sacrosanta imagem é aqui entro– nizada. : Permite, indulgente J,es~s, que, antes de deixar esta tribun~, trans~ormada em atno de oração, invoque, em a narrat1v~a de Sao ~arcos_, uma passagem de teu Santo Evan– gelho, _sobre ~ 9-ual _II;~ditamos, faz poucos dias, no domingo da Qmnquagesrma · E chegaram a Jericó, e ao saírem de -56-

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