Revista da Academia Paraense de Letras 1962

IJ • .,. REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Desnorteados, sem roteiro certo, os homens caminham, pressurosamente, na voragem da abjeção, entredevorando-se, prostituindo consciências, estigmatizando uma época de in– versão de caracteres, que tanto nos humilha e degrada. • Melhor do que nós, conheces a realidade pungente dos dias que correm. Com absoluta certeza, compreendes o fw1-. damento da corrupção que ferreteia a humanidade do sé– culo XX. Nunca é demais revelar, embora com sincero pun– gimento, o agente produtor dêste alude de misérias morais que vai solapando os alicerces da civilização cristã. Falando a jovens desta Faculdade, tive oportunidade de dizer que muitos procuram o germe dessas anomalias em fatores de ordem material, econômica ou financeira, explicando-as com argumentos que não convencem, alguns dos quais concor– rem para agravá.las. Buscam unicamente nas leis dos ho– mens o r emédio para a extirpação dêsses vírus contamina– dores do organismo social. Sugerem fórmulas, aparente– mente viáveis, mas improdutivas aos primeiros ensaios de sua aplicação prática. o homem pretende encontrar no próprio homem o so– lucionamento dos problemas de ordem moral que êle mesmo criou, sem contudo perquirir a causa primária de seus desa– certos. Impossível combater com providências de natureza pu. ramente utilitária, materialista, males que têm raízes no afastar-se a humanidade do seu Criador . A crise que atra– vessamos é de ordem estritamente moral : é ,a crise do :::a– ráter, que encontra sua real explicação no esquecimento de Deus. O homem desta centúria não se limita ao olvido dos preceitos sobrenaturais que Tú lhe ensinaste, Divino Cruci– ficado . Quer, com ousadia, sobrepor.se a Deus, criando um , outro Deus que se adapte aos seus anelos de libertinagem, luxúria, prepotência e vingança. Fulton Sheen, renomado psicólogo, transmite-nos esta desalentador-a conclusão : "No começo, Deus fêz o homem à sua imagem e semelhança; no século XX, o homem fêz o Deus também à sua imagem e semelhança". A idéia de um Ser Superior, oniciente, onipresente e onipotente, cria obstáculos intransponíveis à consecução de objetivos inconfessáveis das gerações atuais. Longe de seus cuidados, a presença de um Juiz infalível, que tudo vê, tudo pode e nada desconhece, a exprobar, continuamente, os êr– ros e as imperfeições humanas. Há necessidade de fazer um outro Deus, indulgente, que não julgue nem recrimine sempre disposto •a assentir com as mais repugnantes maze: las morais. -55-

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