Revista da Academia Paraense de Letras 1962

REVISTA DA ACADEMIA P ARAENSE DE LETRAS de "A Mata Submersa" : "Foi, porém, no t erritório da prosa, sobretudo, que a influência do Modernismo se nos afigura mais salutar. E arremata : "A eloquência cedeu lugar ao comedimento, o abuso do descrit.ivo ao amor da narração telegráfica, descarnada, não r aro informe. . . Não morreu, contudo, ao calor revolucionário do Modernismo, a nossa paixã') pela paisagem e pelo pitoresco. Destacando que Má– rio de Andrade pretendeu criar uma "linguagem brasileira", uma espécie de código de "falar errado", o que não conseguiu, Peregrino salienta que a sua afoita e resoluta iniciativa teve, afinal, uma utilidade : abriu caminho para a ling-µagem na– tural e clara, simples e viril, de fundas raizes na fala do povo, que dá seiva e riqueza à prosa brasileira de hoje" . .E foi justamente o•que fez V. Excia. , acadêmico Jar– bas Passarinho, no seu romance "Terra Encharcada" , lau– reado em 1959, com o prêmio literário Samuel Mac-Dowell, instituído nest a Academia p_elo saudoso governador general Magalhães Barata. Fugiu ao clássico. E fugindo aos canones clássicos, V. Excia., observou, certamente, o que destacou Mário de Alencar, em 1918, ao saudar na Academia Brasileira a Antonio Austregésilo de Atayde : "Há tanta maneira de ser escritor fora dos gêneros clássicos . A submissão aos gê– neros. ao contrário, tem transviado e malgrado muito ta– lento . Quanto romance h á por aí sem romance, e poesia sem poesia, e drama sem drama ! Os gêneros literários foram uma formação; e, como a flora de certos climas, não deve ser fá– cil transportá-los, pois a sua aclimação proveitosa pede con– dições que raramente se verificam, de temperatura e de hn– mus. A paciente adapt ação de estufa é um esfôrço de artifí– cio que nã,o supre a fôrça natural. É o que quase todos dei– xamos de ponderar. e por isso tanto pervertemos a nossa pro– ducão. escravisando as idéias aos moldes seculares. E confir– màndo os conceit os de Mário de Alencar, V. Excia. "consul– tando a própria disposição moral, não errou na escolha da espécie literária adequada ao seu espírito". Anatole France, por outro lado, afirmou a inutilidade dos dicionários para o escritor que tem alguma coisa a co– municar aos contemporâneos. Basta a língua que êle mama e respira. E Mário de Alencar pondera : "Há exagero na afirmacão, mas há também verdade. Os dicionários incutem 0 amor do vocábulo raro, o vício da preciosidade, com que se fala mais à vista do que ao entendimento". Na "Filosofia da Vida", WILL DURANT diz que "nada _ do que aprendemos nos livros tem o menor valor antes de confirmado pela vida; só depois dessa confirmação é que 0 -39-

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