Revista da Academia Paraense de Letras 1962

"" ., REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS dárias e superiores . Dos 400 mil cruzeiros que constituia seu ativo, restavam apenas 60 mil. É verdade patente, que salta aos olhos e não admite so:ismas : tudo o que tivemos de belo, de bom, de culto, de– vemos à borracha . O apogeu econômico coincidiu com o apo– geu artístico. A borracha, que fizera a projeção da Amazônia no ce– nário internacional e que a fizera conhecer tôda a superio– ridade da arte européia, que o Rio e São Paulo nem sonha– vam ver, estava agora semeando a fome, o desespêro e a mi– séria em lares, cidades, regiões, em todo o vale, que o cien– tista insígne previu ser o celeiro do mundo, mas que conti– nua com fome , deitado em berço esplê1ndido, mas não tran– quilo . Jarbas tinha então três anos de idade, mas não esque– ceu - Deus opera milagres na memória das crianças - o infortúnio que gemia e sol'J.çava nos rios, nos barracões, e nas choças dos seringueiros desiludidos e, mais que isso, deses– perançados de uma reabilítação imediata ou longínqua. Cabelos cacheados e louros, lá se foi aos cinco anos aprender as primeiras letras no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, êle, o menino Jarbas que já conhecia t odo o alfabeto da miséria do homem que extrai a borracha. E não estudou, porque seus colegas se -preocupavam muito com seus cachos e êle tinha vontade de brigar com todos e com a mamãe tam– bém, que adorava aquêle ouro abundante enfeitando o rosto corado e sadio do filho amado . Aos seis anos se transferiu para o Grupo Escolar Flo– riano Peixoto, j á de .cabelos cortados e estudou, vencendo ra– pi.damente o ciclo primário . A.mando a liberdade, com aquêle mesmo ardor com que J. J. Seabra a exaltava (morrerei gri– tando : liberdade ! liberdade ! liberdade ! ) quando Artur Ber– nardes o deportou para o Cucuí, à época uma espécie de Ilha do Diabo da Amazônia - Jarbas Passarinho sempre achou poucas as 9 janelas que cercavam a casa em que morava na Vila Amazônia, ali na Gentil Bittencourt, e pelas quais fugia continuamen te para viver a .infância misturado com os vi– :;,inhofl e os n.mirros. Intelig~ncia viva, o.os 10 anos ia entrar para o Ginásio "Paes de Cárvalho" . Somente com 11 , era da lfli . E umi:t certiclão nova, para não dizer fRJsa, foi conseo:ui· da e Jarbas ingressou no secular estabelecimento de ensino, fazendo um curso brilha,nte, e, em 1937, era o primeiro aluno do 2. 0 pré de Engenharia. A figura de Caxias o empolgava. As belíssimas orações do maior poeta que o Brasil já teve - Olavo Bilac - exaltavam seus sentimentos patrióticos e de, -37· -

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