Revista da Academia Paraense de Letras 1962

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS posse na APL, encerrando seu discurso, assegurou que, já sexagenário como o era ,então, pretendia estar integrado em três princípios - amor às letras, plena consciência do dever e confiança em Deus. E assim procedeu. A sua grande fôrça era a bondade. Empolgado por ela, tornava-se um gigante na luta. Impressionado com a dor, transforma-se em poeta para soluçar com o desespêro do seu semelhante e aí era fraco, porque ia até às lágrimas na ânsia de consolar. Nos "Trabálhadores do Mar", Victor Hugo salientou que a "beleza basta ser bela para fazer bem". Avertano Ro– ch~ entendia, parece, que a bondade para ser útil basta ser sincera, operando, assim, o milagre da cura e da redenção. Meus senhores: A festa de hoje pode ser encarada sob dois prismas : festa da saudade e festa da justiça. Sau– dade de um homem dígno que soube ser fiel, de uma leal– dade impressionante, para com a APL: Avertano Rocha; e áe iustiça a um homem que tem sido fiel à sua conviccào e ao caminho que se traçou : Jarbas Passarinho. - Em minha vida de 41 anos bem vividos e secularmente experimentados, conhecendo a diversidade de caracteres res– valando quase sempre para o mesmo fundo, nunca vi uma velhice tão íntegra, como a de Avertano Rocha se assemelhar e se igualar a mocidade íntegra de um jovem que é Jarbas Passarinho . E não estranhem, meus senhores e nem o novo acadêmico, com o de~taque especial ao caráter, antes de sa– lientar a cultura por estarmos numa entidade de letras. Ex– plico : não concebo, não admito e muito menos aceito uma cultura que não esteja apoiada na dignidade intelectual vi– sando um objetivo humano, sadio e patriótico . Jarbas Passarinho reune as duas credenciais. É um valor espiritual, em permanente atividade, aliado a um sen– timento extraodinário de amor próprio quei, em uma análise rés do chão, é caráter. Num aglomerado humano, num pedaço de coletivi– dade, o simples gemido isolado de um homem, só tem valor e somente será ouvido, se a favor dêle estiver, em posição firme, a verticalidade de um ideal. Monteiro Lobato, antes de completar 20 anos de idade, já afirmava que "sem um ideal, sem um fito, sem um destino, uma geração não pode progredir". "Se deixar de iludir-se é deixar de viver" e "um novo mundo de ilusões d~sperta em cada mundo de ilusões que - 32 - ( 1

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