Revista da Academia Paraense de Letras 1962

REVISTA DA ACADEMIA PAID\EN5E DE LETRAS ses 20, 16 pertencem à APL, pois aqui ingressei a 23 de agosto d3 1946, com o propósito de servir mais ao Silogeu do que à minha própria vocação de poeta. Vocação, sim, sem cursos ,:, sem apren– dizagem, porque não me fiz poeta nem escrevi ou escrevo versos à luz dos estudos, de escolas, de seitas ou de religiões, mas por um impulso natural de minha vocação, pois somente entendo, aceito e admiro os poetas que escrevem o que sentem e não forçam a alma, forçando, muitas vezes, a própria vocação. Não se fabi'icam poetas nem artistas. Eles nascem f tjtos. Aliás, o ilustre professor Arthur Gilbert Highet, da Univer– sidade de Colombia, em No .v York, na admirável obra que escre– veu "A arte de ensinar", salientando os valores humanos da edu– cação, descreve o carn qu: 1 ocorreu com Toscanini e um primeiro violino. E conta que, numa excursão, Toscanini, certa vez, chegou a uma nova cidade para reger uma orquestra, com a qual nunca antes tivera contacto. Principiou com Semiramis. Depois de al– guns minutos, reparou que o primeiro violino o encarava com uma estranha expressão. O homem tocava regularmente bem o violino, mas ma fisionomia 1,Qlvelava aborrecimento, e quando virava a fôlha dá partitura para atacar nôvo trecho fazia care– tas como se sentisse alguma dor. Toscanini, impressionado, fêz parar a orquestra e perguntou-lhe "Está v., por acaso, doente" ? Instantaneamente, a fisionomia do músico voltou ao natu– ral. "Não, obrigado. Sinto-me perfeitamente bem, sr. maestro. Continue, por favor". "Muito bem, se me assegura, vamos adiante". E a or– questra prosseguiu. Mas quando Toscanini lançou os olhos para o primeiro violino, viu-o pior que dantes. · Tinha a face tôda re– torcida para um lado, os dentes pareciam -2ntre lábios raivosos e a testa sulcada por profundas rugas. Suava e ofegava de fazer dó. "Um niinuto, por favor, sr. 1. 0 Violino. O sr. parece real– mente do-mte. Quer ir para casa ? - indagou Toscanini. "Não, não, não, ·sr. Toscanini ! Por favor, continue !" "Mas eu insisto, disse Toscanini, e acrescentou: "O sr. pa– rece realmente doent?. Não gostaria de repousar um pouco ?" _ "Não, não estou doente, respondeu o primeiro violino. - "Então, que é que há ? V. t :-m um olhar terrível e não esconde caretas de dor. Deve estar certamente sofrendo" ... Num desabafo de homem que se sente livre, transbordando de felicidade, disse, incisivo, o primeiro violino: "Para ser com– pletament~ franco, ~u odei? a_ música". Assim como esse, mllhoes de outros exemplos existem nas letras, na música, ·na pintura, no jornalismo, no comér cio, nas in- - 222 -- , .. e

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