Revista da Academia Paraense de Letras 1962

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS O seu coração profundamente afetivo, sofrera um desses golpes incuráveis, com a Ii10rte prematura de tiin filho ·queddo. E, desde aí, ausentou-se do mundo. · Continuou, entretanto, como um.beneditino da arte, a cul– tuar os seus poetas, a traduzir as obras·máximas da literatura an– tiga, a compreender o grego antigo e o latim, compondo pequenos trabalhos, onde a primícia da sua inspiração revelaram os seus altos recursos de consumado artista. Abstendo-se de ter uma vida mundana mais ou menos in– tensa, o seu espírito de estéta continuava a trabalhar, no silêncio da sua formosa vivenda, alí, na "9 de Janeiro", - em companhia de sua espôsa amantíssima. Fomos encontrá-lo, assim, como um poeta na sua tebaida, prodigalizando aos que o visitavam, momentos de inenarrável deleite espiritual. A convivência com Heliodoro de Brito oferecia, aliás, três faces, que a nimbavam das mais opulentas cores e sugestões: pri– meiro - uma longa e ilustre vida, tôda dedicada à literatura; se– gundo - uma inteligência magnífica, alicerçada por vasta cultura; e terceiro - sua simpatia universal pela beleza, pela arte e por tudo o que compõe a vida, - o que deslumbrava o visitante, dei– xando-o por largo tempo sugestionado. Era a sedução inevitável de um grande espírito, sôbre quan– tos quizessem experimentar de perto, o influxo da sua majestade. E o grande intelectual, tal como o anacoreta, que na paz do con– vento, rebuscasse a sabedoria nos infolios antigos, munia-se no re– colhimento do seu gabinete, por simples gozo espiritual, - dum acervo enorme de conhecimentos artísticos e históricos, enchendo os outros de admiração, e fazendo da sua vida, um desses jardins de Epícuro, - paraíso terrestre dos que vivem pelo pensamento. O seu sentimento de dignidade pessoal, que sabiamente se firmava num respeito ·e reconhecimento pelos valores alheios, constituia uma das qualidades· refulgentes do ilustre cidadão, dan– do-lhe o prestígio indestrutível, que só obtêm os grandes homens. Heliodoro de Brito, afora o trato com a familia, auxiliares, ou relações ~ociais, era um desses indivíduos meditativos, retraí– dos, e todo preocupado com problemas interiores. Esses, porém, na maioria dos casos, seriam a arte, que ele venerava com a dedicação de um acrisolado amor. Tôdas essas razões psicológicas, se amalgamaram, pois, para formar a estrutura moral de um tipo notável. Foi, por isso, que a Academia Paraense de Letras reuniu, para render-lhe o preito de uma brilhante homenagem. O tributo, assim, que os admiradores de Heliodoro de Brito dedicaram-lhe durante a sua vida, com o seu desa.parecimento foi- - 195 -

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