Revista da Academia Paraense de Letras 1962
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS A figura do dr Heliodoro de Brito, que egressou do número dos vivos, naquela data, na Capital da República, consistiu numa personalidade de homem de letras, verdadeiramente insigne, em quem o caracter leal e pleno ·de impulsos generosos, lhe deu ca– racterísticas particulares, para lidar e compreender os homens. O seu grande saber e inteligência de escól, a maneira per– sonalíssima como vislumbrou a arte, levaram-no à interpretação dos grandes escritore·s primitivos, e ao entendimento filosófico elos caracteres, nas suas várias feições abstrusas, como fruto natu– ral do seu comércio na Sociedade. Assim é que, a Fábula, o Provérbio, o Aforismo, o Humour, a Critica indireta e suave dos costumes, predominaram nas suas crônicas de sabor ático, e temperadas de leve malícia. · Com a idade avançada com que veio a falecer, - 86 anos, - os gestos comedidos e discretos dum perfeito gentilhomem, - G o proceder estribado numa superior elegância moral, conquis– tavam de pronto, as simpatias dos moços, embevecidos que fica– vam pela sua pureza de costumes, franqueza embora que delicada, idealismo, sinceridade, e amor ao mérito e à justiça. Tornava-se curioso observar, como um sêr que passou tan– to tempo pela existência, convivendo com os bons e os maus ele– mentos humanos, ocupando cargos de relevo, como o de prefeito de Belém no govêrno Enéas Martins, - privando nas mais altas esferas sociais, fôsse ao fim de contas, um homem tímido, cati– vante e afável, que fazia amigos quantos com ele privavam. Mas, não havia mistério. É que uma bondade inata e uma modestia sem par, temperadas por uma fidalga indulgência para com os defeitos dos outros, tornavam-no o cavalheiro cheio da– quela distinção inexplicável, a quem os seus admiradores acaba– vam por sinceramente amar. Num domingo - 7 de maio de 1950, vimo-lo no recinto da Academia Paraense de Letras, levantar-se com singela nobreza, e agradecer num feliz improviso, a homenagem que lhe era tribu– tada. Os efluvios de simpatia e atração que emanavam da sua pessoa, se evidenciaram, então, numa uníssona ovação de todos os presentes, que o rodea~am, cumulando-o dos mais calorosos cum– primentos. Heliodoro de Brito, sendo um dos fundadores do nosso silogeu, de certa época em diante, afastou-se de maneira absoluta, das lides intelectuais públicas na nossa terra. Parecia que tinha abandonado as letras, e relegado para um plano inferior, o labor literál'io, em que tinha sido um mestre grandemente respeitado. Tal não era, porém, a realidade. - 194 ._
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