Revista da Academia Paraense de Letras 1962

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Manhã ainda, quando o nosso automovel parou em frente a um bungalô elegantemente construido entre silvas e arvoredos, coroado todo, de trepadeiras e tinhorões selvagens. A chuva caia fina, enchendo o ar, como que, de uma dôce nostalgía. O ar invernoso dava uma tristeza enevoada ao ambiente, imprimindo-lhe uma temperatura deliciosa. Ao batermos, depois de atravessar o pequeno jardim, apa– receu para receber-nos, a figura tradicional do venerando e co– nhecido homem de letras, franqueando-nos a casa com requintes de bôa vontade. E a palestra ajudada pela suprema distinção de Madame Sofia Brito, (nascida Ruiz), decorreu palpitante de interesse, e cheia de tentações insopitaveis, para a nossa curiosidade intelec– tual. O terreno dos·fundos da habitação mereceu o nosso reparo, pela sua admiravel limpeza e disposição bucólica. Assemelha-se tal e qual, a bosque sagrado da Elída, no romantism<>! momen– tâneo da nossa imaginação, - onde aparecessem ninfas inspira– doras da poesia. - E' ali. - disse o dr. Heliodoro, - que passo as minhas tardes de verão. . O sítio era arejado, arenoso e povoado de sombras. O asseio, absoluto. As árvores estavam enfileiradas como nos pomares. Um copado abricoseiro e uma velha mangueira ladeavam a área bem tratada e alvinitente, que servia de pavi– mento. A casa com dois pavimentos, feito pelo próprio desenho do dr. Heliodoro, recebia ar e luz por todos os lados com abundância. - A sua mansão é esplendida para estudo. - dr. Helio– doro, - dissemos embevecidos pelo belíssimo traçado da viven– da. - Agora, mostre-nos a sua bibloteca ! Ele levou-nos então, a uma salinha que se ostentava quatro armários pequenos, mas elegantes. Só eles. Estacamos surpreendidos, com olhares discretos mas cheios de interrogação. Era então possível, que um espírito com uma tão profusa ilustração, se contentasse com uma coleção de livros tão reduzida ? . Ele sorriu com modestia e resignação e mostrou-nos o con- 1eúdo das estantes. Pasmamos pela maravilha das preciosidades 1 Imagine-se: quase todos os auto~es greg?s. e latinos, em edições francêsas, encaderna?as, e na_ língua or1gmal, que O dr. Heliodoro maneja com supenor mestria . .. Ali se achavam "A vida dos Doze Cezares", de SUETONIO: - 188 -

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0