Revista da Academia Paraense de Letras 1962

1 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Desde os poétas consagrados, aos juristas eminentes; dos ensaistas de recursos, aos cronistas elegantes desses que sabem fazer uma peça literária tôda ressumando arte e cultura, - todos os componentes do velho silogeu têm sido autenticos enamorados da beleza eterna que vive patente na obra dos pintores, dos poetas, dos romancistas, dos ensaístas intelectuais, dos historiadores, e dos críticos de arte. Por êsse fato, a Academia tem merecido algum respeito e notoriedade, por parte do grande público, o qual, acostumou-se a ver nos seus representantes, não, a individualidade repleta de honrarias e das glorias convencionais, dadas por uma instituição social, antiga e prestigiosa, - porém, - o predestinado da arte e da beleza - o obsecado pela eloqüência, - o rebuscador insa– ciado da forma, - o sonhador, do que é perfeito como obra artís– ta, - o velho maníaco cultuador das inteligências alheias .. . Em consequência, a plebe em vez de testemunhar a esses herois, o respeito reservado que tem aos homens poderosos, - dedica-lhe a mesma admiração e simpatia ·com que a Helade reve– renciava os seus poetas ... Já é uma compensação. Se não é o cunho de temor e de veneração coagida, que a Burguezia tinha pelos nobres, - é antes, um sentimento sincero e espontâneo, que a criatura humana sente pelo rouxinol. E o homem de letras é isto, realmente. Isto é: um ser que cultiva as artes, não por exibicionismo ou vaidade, mas numa verdadeira espansão emocional, como uma necessidade do seu temperamento e da sua religião pela Estética. O dr. Heliodoro de Brito faz parte indubitavelmente desses eleitos. Cidadão que hoje vive afastado do bullcio contemporâneo das lides intelectuais, não o está, entretanto, do culto acrisolado e extreme, pelos tesouros da Literatura Clássica. Se fugiu das gazetas, da ostentação ativa e militante da or– ganização qu~ ajudou ª. fundar, c?mo seja a AcadeJ?ia Paraense_de Letras, - vive, todavia, recolhido no seu tugur10, onde cultiva com profundo deleite, as literaturas antigas da Grecia e de Roma. Cronista de estirpe, crítico aparelhado dum cabedal imen• so de cultura, estilísta que merecia os elogios de Humberto de Campos, a sua vida atual, quase que retirada do mundo, se apro– funda e se abebera voluptuosamente, da eloqüência aprimorada dos autores antigo~. Fui visitá-lo c.om o meu amig9 Eldonor Lima. Era um domingo de inverno, em que a luz perdera a sua intensidade equatorial, para se transformar numa suave claridade cinzenta e penumbrosa. - 187 -

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