Revista da Academia Paraense de Letras 1962

" REVISTA DA ACADEMIA P ARAENSE DE LETRAS E eu disse : " Escuta, ó mão, que desde o dorso é palma. Fremes, ansi ando tóda em frígido tremor : O mundo assim o quer. Sofreia a queixo . Acalma . Melhor é o escravizar-te . .. e a ventura supor". E a mão emudeceu . .. Pudera: era minha alma A luva que a reveste - a luva é a minha dor ! O MESTRE AVERTANO Esta cadeira, em que hoje me assento, foi a cátedra por excelência. Por ela só Mestres têm passado. Fundada por Carlos Nascimento, substituiu-o Amazonas de Fig-ueiredo, que lhe professara Direito Romano, na Faculdade de Direito do Pará. A Amazonas sucedeu Avertano Barreto da Rocha, educador notável de várias gerações, a minha inclusive. Iconoclastas, renovadores, rebeldes e até mesmo revo– lucionários, vivíamos, os rapazes da década de 30, um duro drama opcional. Aí pelo ano de 1936, só se admitia um destino para o Estado : o nacional-socialismo ou o comunis– mo. Os poucos que nos mantinhams fiéis à concepção demo– crática do Estado, éramos arg-uidos de retrógrados irremissi– velmente ultrapassados. De um lado e de outro, os catequistas empolgavam os rapazes ávidos de liderança efetiva, anelantes por um rumo heróico a serviço de uma causa nobre, descrentes que esta- · vam dos Parlamentos, onde campeava a política mais ras– teira, desprovida de qualquer grandeza ou decência, na sua tarefa inglória de estabelecer uma proteção egoística e mú– tua de interêsses subalternos ,._ Como sempre, os homens, fal– tos de espírito público e de idealismo, comprometiam o re– gime democrático e lançavam a juventude, completamente desorientada, nos braços do totalitarismo da direita ou da esquerda. Menos por convicção marxista ou fascista, do que por horror aos homúnculos que faziam degenerescênte o processo democrático no país. Homúnculos de ontem, que ainda se repetem em muitos pigmeus de hoje, a recriar, para a mocidade atual, o mesmo drama de outrora, ·os mesmos desalentos, até a mesma aversão pela política. A essa geração inconformada dos anos 30, pertencía– mos nós e êsse grand~ poeta Georgenor Franco, cuja gran– deza de coração, cujo exagêr~ esfusiante - não fôsse êle poeta ! - reconhecereis, em pouco, ao saudar-me. Havereis -21-

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