Revista da Academia Paraense de Letras 1962

._ REVISTA DA ·ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS moral aliada à competência e agudeza mental a serviço da crítica literária, construindo obra imorredoura e exemplo que gerou discípulos e fecundou os espíritos. O grande crítico sempre foi fiél à sua origem amazônica; sua vida é a de um autêntico seringueiro das letras, extraindo a seiva da matéria prima, para apresentá-la e dá-la à transforma– ção dos consumidores, no caso os espíritos ávidos de entender a significação da arte e da cultura. Com palavras enternecidas o notável crítico invocou suas origens paraenses: "Debruçado na amurada do navio, contemplo o grande rio que amo com amor de filho. Viu– me nascer, o murmúrio de suas ondas na praia adormeceu-me, enquanto as suas auras me emba– lavam a pequena rêde: amo-o". O velho Machado de Assis proclamou, ce1tta feita, que : "Não basta produzir borracha, cumpre tam– bém gerar idéias; não é suficiente escambar pro– dutos, é ainda preciso trocar pensamentos". Com êste pórtico da lavra de Machado de Assis, o gigante Beríssiom fundou, em 1883, a "Revista Amazônica", de ciência, . arte, literatura, filosofia, economia política, indústria, viagens e outros assuntos, no alto intento de "abrir um campo a quantos se interessassem pelo desenvolvimento da região amazônica, com o fito de torná-la conhecida dentro e fora do país; estreitar, numa comunidade de desejos e idéias as duas províncias que constituem a Amazônia" (Francisco Prisco - José Veríssimo). Ninguém ignora a intensa atuação de José Veríssimo como incentivador do movimento intelectual nos meios paraenses, sem dúvida dos mais fecundos, na imprensa, no magistério e até mes– mo como diretor de Instrução Pública. A primeira fase de sua vida foi tôda realizada em sua terra. - Que é, porém, a Amazônia ? Em sua "América Hispânica", disse Waldo Frank que o Amazonas é "uma corrente sanguínea correndo através de uma floresta, e a floresta é o Brasil" (pg. 234). f:: 0 grande rio, na visão poética do pensador "o fluxo vital da imensa nação do trópico", de que o homem tornou-se um em– brião "interminàvelmente submisso, agitando-se apenas debil– ment~ - como os índios da floresta, como as tartarugas na cor– rente, como os vagalumes, como as fôlhas ... " - 173 -

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