Revista da Academia Paraense de Letras 1962
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS E, como se fôsse pouco, reservava para 9 fim o efeito teatral, com três pontos de exclamação violentos : "Salvai-me pois, Senhor ! ! !" ' Com a aprovação do padrinho, que se propunha am– parar-me, desta rua parti para o cáis, à busca do Ita como na c~nção de Caymi. Arrazado sentimentalmente, cdmpun– gido pela saudade, que já explodia violenta e incontrolável aqui mesmo na Guajará ... No fundo, porém, eu e1ia um dis~ cípulo vitorioso de Marden, que lográra esboroar o primeiro · obstáculo no caminho do êxito . .. Esta rua foi, pois, nesta quadra de incertezas e de sonhos, de encantamentos e decepções, um marco nas mi– nhas memórias. Se já me não era pequeno o conteúdo emo– cional que nela se contém, eis que, agora, êle se amplia e avoluma pela cerimônia desta noite. P.arece, até, que é ainda o mesmo rapazinho pobre e sonhador, rebelado e ro– mântico, que surge diretamente do passado, de dentro das lembranças de quase um quarto de século, para ingressar nesta casa e aqui ombrear com intelectuais da mais alta ex– pressão. E, assim o fazendo , justo é que o rapaz quase im– berbe, hoje tornado no quarentão domesticado pela vida, an– tes mesmo de sentar-se à cátedra do mérito, volte seu pensa– mento agradecido para uma mulher heróica, que a enfermi– dade priva de aqui estar, e a cujos sacrifícios imensos deve o buliçoso e desassossegado rapazola de ontem a sua trans– formação no homem realizado de hoje. Esta mulher, minhas senhoras e meus senhores, certo já a ter.eis identificado. Esta mulher é minha Mãe ! DUAS PALAVRAS SôBRE CARLOS NASCIMENTO Maranhense de Turiassu, Carlos Nascimento é indire– tamente sucedido, nesta casa, por um filho de maranhense de Caxias. E, por significativa coincidência, enquanto num 30 de maio, há 35 anos passados, morria Carlos num sana– tório de Minas 'Gerais, é num 30 de maio que aqui chego, ve– nerando-lhe a memória, para ocupar a cadeira em que êle pontificou. Carlos Nascimento viveu pouco, para que pudesse dar, em plenitude, o que o seu· talento prometia. Ao lado do seu valor intelectual, apontam os que lhe conheceram a vida, corno traços marcantes de Carlos, a mansuetude, a cordura e a afabiliC:Íade. "Foi um dos mais formosos talentos que co– nheci no Pará - escreve Eustachio de Azevedo - . Tinha 0 aprumo de um gentleman, correto e elegante na indumen– tária, fidalgo e delicado no trato social". 17·-.
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