Revista da Academia Paraense de Letras 1962
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS José Lins do Rêgo, talvez não seja a "aurora" do poeta da ju– venil saudade, que desejaríamos rever, porém, volvermos à "sabedoria" curiosa do menino sempre presente em nós. Fôrça é observarmos que a "vida mental da criança é rica de atividade simbólica". Theobaldo de Miranda Santos, em seu científico estudo, "O Sonho, a Criança e os Contos de Fadas", adverte-nos a respeito do "poder singular que a crian– ça tem de crer prontamente e de um modo absoluto, nas pró– prias idéias" . Com tal maneira de "crença" mental, tendendo para o abstrato, saturadas as diversas metas da existência, com o decurso dos anos, as idéias infantís refluem, produzindo um "Malazarte", em Graça Aranha, ou as páginas de sofridas memórias do mestre Graciliano Ramos. Preconiza-se que "a arte representa, sem dúvida, uma reconstrução da vida vivida. Paixões e sensações formam a sua substância" . Assim não veremos nela somente a função de conceber o ideal, de "mitigar as dores individuais e de proporcionar ,alegrias ao artista" . Tôda a sua mensagem "é moV!merito incoercível para o universal". Teríamos, ademais, de convir, que "em seu fim e sua essência", a arte não exime o social e o conceito de sofri– mento libertário, como definiu Raul Machado: "Bendigo o pranto que meu rosto inunda : - a dor do artista é como a dor do parto, assim terrível mas assim fecunda !" --*-- Para que a Arte não seja. apenas, "diversão e fuga", vêma-la dar outras dimensões "às fronteiras do indivíduo", revelando "intuição do mundo, compreensão, simpática, co– munhão com a humanidade". Dai, como libertação de sentimentos aprisionados nas "câmaras secretas do espírito", só pela concretização literá– ria, que é escrever, eliminaremos "os nossos fantasmas", como confessou Dostoievski, ou, conforme Humberto de Campos, sepultando os seus mortos. A base da estética literária e de sua complexa filosofia, indaga Cyro dos Anjos : "Por que motivo, pois, o homem, ao contemplar as coisas, delas procura extrair efeitos estáticos, realizando combinações novas, modelando-as à sua feição, impondo-lhes o sêilo de sua personalidade, ampliando-as, re– duzindo-as deformando-as, fundindo-as ao sabor de sua fan- ' nfº ? " tasia, recriando-as, e im . - - 146 -
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