Revista da Academia Paraense de Letras 1962

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Falar e Lêr serão talvez as principais ocupações de um acadêmico, pois de tal exercitamento ,advirá a fôrça de sua obra. A um filólogo perguntaram como tanto aprendera a língua nacional, ao que respondeu : - Lendo, meu filho, lendo sempre, até que um dia começaram a dizer que eu conhecia a língua. Falar é mais · düícil, mais temerário. Moniz Sodré no pórtico q.o seu livro "História Universal da Eloquência" tr~ns– creve estas palavras de Alves Mendes : "A palavra . .- . Tem claridade celeste e profundidade oceânica, é mais leve que o ar, e mais irisada que a maripôsa, é tam diáfana como a g-aze, e tam sonante como o bronze; cicia como a aura, e re– tumba como o trovão, murmura como o arrôio e ruge como a tormenta, prende como o ímã, e fulmina como o raio, corta como a espada, contunde como a clava. . . O orador planeja como o arquiteto, canta como o músico, fantasia como o poeta, pensa como o filósofo, argumenta como o dialético, batalha como o guerreiro, representa como o atôr ... " Falando e lendo, no eterno aprendizado, o homem avança no eixo do seu destino . Aqui na Academia, assim fa– rei, escrevendo apenas quando as solidões do espírito impu– serem a mim a mensagem melhor e o suficiente para não inutilizar o destino, nem ferir a origem da vida. Como Má– rio de Alencar, aqui estou, por fôrça de mãos amigas e fra– ternas. A êle foi Machado de Assis, quem, carinhosamente, amparou e vitoriou. A mim fraternalmente, me impulsiona– ram Georgenor Franco e Bruno de Menezes. "O próprio fáto da minha candidatura à Academia, dizia Mário de Alencar, é assim que eu explico : por um movimento de amiz.ade ge– nerosa". Continuarei a ser o mesmo aprendiz de literatura, e na frase lapidar de Joaquim Nabuco, eu me aprisiono : "A homens de letras que se prestam a formar uma Academia, não se póde pedir a fé; só se deve esperar dêles a bôa fé". Procurarei, portanto, exercitar aqui a bôa fé de merecer a companhia ilustre, sem "ser nem urtiga, como Eça, nem ta– cape, como Ramalho". Declama.rei, em resumo, à Academia, a minha última fala nesta noite, como Otelo relatando a conquista de Des- dêmona : "Ela amO'l.1-me pelos perigos que passei; eu amei-a por– que se adiedou de mim". Muito obrigado. - 144- •

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