Revista da Academia Paraense de Letras 1962
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS sóficas, sem roupagens cintilantes, a oferecer o coração que Deus me deu e a alma que LHE devolverei. Não me incompatibilizarei com a humildade depois de ter sido recebido entre vós, nem descerei como Disraeli, que se confessou baixo demais para merecer o Parlamento. Não • fugirei aos novos deveres situados nos meus 54 anos, nem en– frentarei envaidecido a vida futura. Mesmo porque a "fama", segundo Rosseau, assim é definida: "Logo que um homem tem a infelicidade de se criar um nome, pertence a todos . . Todos investigam sua vida, contam suas mínimas ações; in- • sultam os seus sentimentos . Tornam-se semelhantes a êsses muros que todos o transeuntes podem manchar com urna inscrição injuriosa". E madame de Stael, mais requintada, dizia que "a celebridade é um luto brilhante de felicidade". Quero, _acima de tudo, conservar a impressão de que apenas os meus átos me trouxeram à Academia e nunca o meu valor, que nada trag_o de importante para a ilustre Com– panhia. Quero conservar a humildade de Carlos Meyer, quan– do o Presidente do Conselho de Ministros de Portugal pergun– tou-lhe o que era a nova entidade denominada "Os Vencidos da Vida". É política ? Quais são suas deliberações ? E você, continuou o Ministro, que papel desempenha entre os Ven– cidos, sendo, como são, o Conde de Arnoso, o primeiro diplo– mata de Portugal; Eça de Queiroz, o primeiro novelista; Ra– malho Ortigão, o primeiro crítico, e Oliveira Martins, todos seus companheiros, o primeiro historiador? Ao que Meyer, humildemente, respondeu: _ Ah l eu, Excelência, eu sou seguramente o maior caréca de Portugal. --*-- . Sempre devotei à Academia um grande respeito, um pais de longe sonhado, regiões de imortalidade, paragens ne– gativas do pessimismo de Mark Twain. Amar sua Companhia, viver entre os seus componentes, é exatamente o contrário do que diz o famoso humorista, o qual, como Sólon, pensava que "nenhum homem devia ser considerado feliz senão de– pois de morto". . . Talvez pudesse, à fôrça de exercicios, con– siderar o amargo e consolador terceto de Fernando Pessôa : Oomo todos não creio ·no que creio Talvez possa morrer por êsse ideal Mas, enquanto não morro, falo e leio. -143 -
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