Revista da Academia Paraense de Letras 1962

AVERTANO HOMEM E GÊNIO Acadêmico JARBAS PASSARINHO · . O acadêmico Jarbas Passarinho, ao tomar posse na Aca– demia de Letras, a 30-5-961 , pro!1unciou o seguinte discurso: "Rua Simbólica . Esta rua já entrara para o universo das minhas remi– niscências . Nela morei, num dos mais fascinantes e insofri– dos períodos da vida : o da juventude inquieta, incerta dos seus rumos, faminta de saber e sôfrega de realização I No en– cantamento dos meus 16 anos, ela testemunhou o alvorôço com que travei contacto com a lit~ratura. Lia tudo que me vinha às mãos. Desordenadamente. Sem regra. Sem plano e sem direção. Mas com avidez, com uma enorme pressa de re-cuperar o tempo que eu julgára perdido inutilmente . Cada livro era uma revelação, cada novo autor um novo ídolo, não fôsse a juventude a idade ideal da imoderação. Nunca me hei de olvidar do misto de fascinação e de espanto que me deixou a leitura do "Capitães de Ar.eia" ! Jamais encontraria eu em Jorge Amado, pelo resto da vida, história tão encan– tadoramente lírica, tão profundamente humana, como aquela· de Pedro Bala e seus companheiros . Nunca mais, igualmen– te, chocar-me-iam tanto a licenciosidade, os palavrões cabe– ludos que constituíam à linguagem crua é audaciosa do agres– sivo revolucionário da época, hoje contido no fardão acadê– mico. Não foi Jorge, apenas, quem fêz vibrar a minha ado– lescência fantasista, em nieio às noites silenciosas desta 13 de Maio. Plínio Salgado, com o "Esti,angeiro", ensinou-me a sedução da frase curta, incisiva e simbólica. Avêsso, em– bora à sua doutrinação política, encantava-me a beleza da sua ~ensagem plena de exaltação . Do autor de "Banguê1", o nosso Zé Lins, cujas fotogra– fias começavam a aparecer nas livrarias da João Alfredo. be– bíamos, em golfadas largas, a revolta contra o sofrimento imenso da sub-humanidade nordestina . -15-

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