Revista da Academia Paraense de Letras 1962

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Jaques riu dos contrastes injustos da vida, mas riu afinal com o caráter sentimental do humor, nem a si mesmo poupando quando metia à galhofa seus dramas de coração. É assim que o vemos celebrar, em pânico, o engordamento da bem-amada, nêste delicioso soneto : Não sei porque, embora bem reflita, fico doente em te enxergando gorda. Quisera-te franzina e pequenita e eis que do corpo vejo-te balorda . Se não afinas, jacaré te morda! Adeus casório ! ficarás bonita inchando à custa de feijão e açorda e eu, sêco, cumprirei minha desdita . Pois assim como vais, ficando nédia, se eu me casar contigo o amor desboca e, ao passarmos os dois, dá.se a tragédia ! o mundo, que o grotesco não refuga, certo dirá : espiem êsse minhoca de braço dado com uma tartaruga 1 Mas, sob a capa do ironista, que pintor de paisagens caboclas e que lirismo de expressão nêstes dois sonetos de vigoroso tom folclórico : --.. , Atravessando a baía corre veloz a canôa. O "marajó" esfuzia nas enxarcias que atordôa. · Ao leme o Chico assobia . Rugem as ondas na prôa . E, âgil, sôbre a marezia, a traqueteira revôa. Mostrando estar bem capenga das ondas no remeleixo vem longe uma vigilenga . Chega perto. Passa ao lado. E o Chico, cigarro ao queixo, grita vibrante : Oh ! cunhado ! - 120 -

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