Revista da Academia Paraense de Letras 1962

REVISTA DA ACADÉMIA P ARAENSE DE LETRAS Nossa boêmia era, pois, uma atitude de ansiados, algo qµe tolamente se nos afigurava inhcrente à vida do homem c;le letras . Jaques, de suas leituras de Henri Murger nas "Cenas da Vida Boêmia", criára o "panache" a que "A Conquista" de Coêlho Neto, juntára novas doiradas plumas. Dai seu apru– :rp.o nas roupas, que seriam poucas mas impecáveis de li.m. pesa, a flamante gravata, vez por outra umas polainas posi– tivamente anacrônicas, o chapeirão de feltro com impercep– tível queda para a esquerda, e presa ao antebraço a "Fa– biana", o bengalão de junco que o acompanhou até quase o.s anos da madureza, quando de há muito se lhe fôra do crâneo a maior parte da famosa cal>eleira preta. A "Fabiana" lhe foi companheira de alegrias e con– fidente de aperturas . Modesta bengala de volta, não tinha um castão de ouro como a que celebrizou Balzac, mas mesmo sem inscrição alguma também poderia significar, como a do mestre da "Comédia Humana" : Sou o vencedor de tôdas ~$ dificuldades. J aques amou como a irmãos os personagens da fan_ tasia mure·eriana, a t al pcnto que ao terceiró filho deu o nome de ~m dêles : Marcelo. . ·Terá sido nessa fase da nossa boêmia a maior pro- dução humorística do poéta. Aliado a outro belo espírito de nosso grupo, Zé Vicente, hoj e o sizudo Ministro Lindolfo Mesquita, do nosso Tribunal de Contas, boas biagues per– i;ietrou, que nisso porfiavam os dois na talentosa inven– donice. ,· De uma não fujo ao prazer de relembrar e que fêz época em nossa roda e nos círculos notívagos da cidade. Certo sábado estavam Jaques e Zé Vicente, o que, 2.liás, era comum, em lamentável pindaíba. A noite convidava a um mergulhÓ nas águas de ouro de uma pândega opulenta ... Ora, Abguar Bastos há poucos dias fôra hospitalizado, com certa gravidade, sabiam-no os companheiros e amigos. . . E a idéia genial fuzilou no cérebro dos boêmios : "Só matando 0 Abguar. . . Com êle morto podemos angariar fundos para uma corôa de homenagem da turma". Dito e feito, come– çou a desarrisca que entrou pe1a madrugada seguinte, não sem qne os piedosos postulantes tivessem com lágrimas re– cebido abraços comovidos, de pêsames pela perda irrepará– vel do ·amigo... No dia seguinte, é claro, a patranha era descoberta, pois que êles mesmos, Jaques .e Zé Vicente, fo– ram ao hospital contar ao Abguar a bravura, provocando do

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