Revista da Academia Paraense de Letras 1962

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS . Nêsses três contos: - "O capitão Mendonça": "Decadência de dois grandes homens" e "A vida Eterna", não encontrei sim– bolismos sexuais, como nos contos: - "A chinela Turca" e "Um sonho e outro sonho". Mas analisei, um apêgo instintivo à vida, um grande de– sejo i.nconsciente de imortalidade; êsse sentimento ambivalente de querer viver e não querer que na minha opinião, era um dos grandes conflitos de Machado de Assis, verificados também em seus contos: - "O Imortal", "Vivêr" e "Rui de Leão". Um dos conflitos que possivelmente deveria ter Machado de Assis, era o de não possuir filhos, especialmente filha; o qual observei nas personagens de suas obras, homens com mais de qua– renta anos, que se apaixonavam ou casavam com jovens de menos de vinte anos. Outro aspecto interessante que analizei nos seus sonhos, é o sentimento "sub-consciente", puramente materialista; apezar de haver sido criado num ambiente católico, haver sido sacristão e amigo do padre Silveira Sarmento. No entretanto, lança mão do recurso dos sonhos, para criar criaturas humanas, geralmente mulher, como Augusta, fórmula sintética da filha do Capitão Mendonça. E preparar a fórmula do "Elixir da longa vida", do chefe indígena Pirajá, entregue ao seu genro Dr. Leão, do conto: "O Imortal" . Acredito para isso haver concorrido a leitura dos livros de: Lamarck, Charles Darwin, Ernest Haeckel, Luiz Buchner e tantos outros materialistas, que deviam ter influído na formação intelectual, já com tendência materialista, do autor de "Ressurrei– ção". Também não encontrei na obra machadeana, êsse amôr e apêgo à natureza e a terra - que observei no poeta dos "Meus oito anos", em meu trabalho sôbre: - "Traços psicoanalíticos de Casimiro de Abreu". Apesar de Otavio Mangabeira, dizer em seu livro: - "Ma– chado de Assis" - que a "Natureza o interessou fundamental– mente, empolgando-lhe o espírito, o gênio, o poder de observa– ção - a natureza humana" - contesto-lhe, porque a única coisa que realmente empolgou Machado de Assis, foi a alma humana, foi O psiquê das criaturas que êle dissecou e analisou como verda– deiro psicólogo, sem nunca haver estudado psicologia e muito menos psicanálise. Um fato curioso que analisei em Machado de Assis, é que êle se apodera dos sonhos, para escrever a maioria dos seus "con– tos macabros" e "paginas de horror, a f!laneira de Hoffmann, Poe e Maupassant". Como se usasse dêsse estratagêma, para justi– ficar a sua conduta de moral~dade eAa natureza de seu carater, pe•. rante a sociedade; o que esta de acordo com o seu temperamento -'- 102 - .. o

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