Revista da Academia Paraense de Letras 1961

- - • - tureza; os indiferentes ao mundo; os extrovertidos e os in– trovertidos, o homo animalis e o homo spíritalis. Há um fundo e generalizado preconceito contra o padre poeta ou o poeta padre. Pelo fato de lhe não encontrarem nos versos exaltação ao amor sensual das mulheres ou a va– .são de paixões eróticas recalcadas. A respeito do livro de poemas que a Academia Paraense de Letras premiou - talvez o primeiro sodalicio de letras que premeia um padre poeta - sei que alguém sublinhou certa conversa: - Poesia de padre ... Deve ser uma irritante infantilidade. Garanto que não vou encontrar ali nem mulhe– rrs, nem talamos, nem alcovas. Não os há, senhores. Graças a Deus não os há. A minha mensagem é outra . Poesia é Natureza. Não quero ser pura– mente animal . Defenderei à outrance a minha racionalidade, elevada a dignidade divina, desde que sou padre. Minha Poe– sia será Sacerdócio, porque Sacerdócio em mim é Natureza. Certo medalhão das nossas letras dizia que não lia poe– mas de pr.dres e de mulheres . Se não é preconceito. . . E é a Igreja que é intolerante ... Minha mensagem é outra. O ladrão - poeta fará poemas de furtos e de rapinas. E' sua mensagem. O assassino-poeta levará em poemas a trágica mensagem das lâminas coruscantes e das balas que sibilam E' a sua mensagem. O poeta erótico terá a exclusiva preocupação dos talamos, das alcovas, dos sexos. E' a sua mensap;E'm ... São tantas as mensagens . Há a mensagem de Lombroso e a mensagem de Freud. A mensagem de Macchiavel e a mensagem de Marx. A mensagem de Lusbel e a mensagem de Cristo . A mensagem de Cesar e a mensagem de Deus. O Poeta é o que é a sua mensagem. Ibsen disse que "poeta é aquêle que vê, além dos seus atos, o ideal". E o homem, já disse alguém, é o seu ideal. Dize-me o que queres e te direi quem és . · Dêsse preconceito contra o padre poeta não fugiu o nos– so crítico Wilson Martins, em crônica em "O Estado de São Paulo", embora reconheça, generosamente, que nossa poéticâ "revela uma inspiração máscula e forte , capaz de criar no Brasil o que ainda não temos: uma verdadeira poesia do so– brenatural, isto é, a que interpr etando temas religiosos, não deixe por isso de ser poesia", ap esar de ressaltar que o aspecto sacerdotal do poema que criticava n ão era inconveniente dos piores que na turalizávamos o sobrenatural "a ponto de se poder aceitar a obra como poética". - 87

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